De volta ao noticiário policial recente ao conseguir fugir de helicóptero durante tentativa de prisão articulada pela Polícia Federal e autoridades do Paraguai, Antonio Joaquim Mendes Goncalves Da Mota, megatraficante e líder do “Clã Mota”, chegou a formar um “holding” de organização criminosa para embarcar toneladas de maconha e cocaína do Paraguai para a Europa, através de portos brasileiros rotas do tráfico de Mato Grosso do Sul.
O criminoso que também é conhecido com “Motinha” e “Dom”, uma referência a Dom Corleone, patriarca da família criminosa da trilogia de filmes “O Poderoso Chefão”, herdou os negócios ilícitos do pai, Antonio Joaquim da Mota, conhecido com Tonho ou Tonho Da Mota, que por sua vez também herdou a aptidão para o crime na fronteira de seu pai, o baiano Joaquim Francisco da Mota, o Joaquinzinho, que chegou a Ponta Porã em 1960 e rapidamente se tornou um dos maiores contrabandista de café na região.
Denuncia do Ministério Público Federal, que culminou na Operação Helix, aponta que de 2017 a 2019 “Dom” e “Tonho da Mota”, lideres do Clã Mota, se juntaram aos narcotraficantes Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro” e Caio Bernasconi Braga, o “Fantasma da Fronteira”, ambos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) para esquematizar a logística e despachar drogas para diversos países da Europa e também para uma nova rota até a Guatemala.
A junção dos narcotraficantes foi confirmada pelo piloto do tráfico, Felipe Ramos Morais, morto em fevereiro deste ano durante confronto com a polícia de Goiás. O piloto chegou a ficar preso em Campo Grande em 2018 acusado de transportar para a morte duas lideranças do PCC, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, cuja execução teria sido determinada por Marcos Herbas Camacho, o Marcola, considerado um dos mais perigosos criminosos brasileiros.
Em sua delação, o piloto do tráfico Felipe Ramos Morais admitiu que estava na Europa quando foi convidado por Minotauro para participar de uma reunião no Paraguai com m Antonio da Mota, o “Tonho”, seu filho Antonio Joaquim da Mota, o “Motinha” e Caio Bernasconi Braga, o “Fantasma da Fronteira” para tratar de futuros negócios ligados ao tráfico.
Na ocasião, Felipe revelou que dormiu na sede da fazenda da Fazenda Buracão, de propriedade de Tonho da Mota e que ainda participou de um churrasco na propriedade, com carnes do frigorifico que pertence ao patriarca. Durante as conversas, o pai de “Dom” revelou que há muito tempo mexia com trafico e que estava retornando aos negócios para ajudar o filho.
“Ele disse que mexia com tráfico fazia tempo, havia dado uma parada e estava voltando a mexer com tráfico. Tonho disse que tinha medo de seu filho ser preso, por isso estava dando um suporte para Motinha. Antônio disse que estava fazendo uma parceria com Minotauro nesta nova operação, ele estava mirando em uma nova parceria internacional, essa nova operação seria para exportação”, informou o piloto em depoimento.
Felipe disse que Motinha participava ativamente do tráfico, e que ainda ouviu uma conversa entre Tonho e seu filho Motinha sobre uma operação que eles estavam começando na Guatemala, para o transporte de cocaína.
De acordo com as investigações, Tonho tinha a droga e o dinheiro e Minotauro entraria com frete, que seria realizado pelo piloto Felipe até o porto em Santos. Tonho revelou ainda que iniciaria uma nova operação internacional e na fazenda ficam alguns aviões com prefixo do Paraguai. A parceria entre Minotauro e o Clã Mota foi comprovada após apreensões da Polícia Federal no celular de Minotauro comprovando o envio de cocaína para a Bélgica via Porto de Santos. Conforme consta dos autos da apreensão na Fazenda Buracão, no local havia duas aeronaves dentro de um hangar com prefixo paraguaio.
Além da proximidade nos negócios, o Clã Mota e Minotauro eram vizinhos. A fazenda Buraão está localizada ao lado da propriedade arrendada Maria Alciris, esposa de Minotauro, em Pedro Juan Caballero. Maria Alciris, também conhecida como Maritê, seria a responsável por gerenciar os negócios criminosos do marido.
Os codinomes “Motinha” e “Dom” também aparecem na planilha de pagamentos do tráfico de drogas de Minotauro, encontrada em seu celular apreendido. Há uma imagem na qual consta uma lista de anotações relacionadas aos negócios ilícitos, destacando o codinome “Dom”. Além disso, nas agendas de tráfico apreendidas na casa de Motinha, o nome de Caio Bernasconi Braga também é mencionado.
A relação entre a organização de Minotauro e o Clã Mota também é evidenciada em uma planilha de despesas com funcionários, apreendida com Maria Alciris, a Maritê, esposa e gerente da organização criminosa de Minotauro. Na lista de pagamentos, constam cinco integrantes de alto escalão do Clã Mota.
O MPF (Ministério Público Federal) também sustenta que as trocas de mensagens entre Maritê e “Dom” comprovam a relação entre os criminosos. Enquanto estava foragido, Minotauro se comunicava com seus contatos através de sua esposa.
Operação Helix
Além de comandar o narcotráfico, Motinha seria o líder de grupo de mercenários, especializados em guerras. Conforme divulgado pela PF, a quadrilha atuava no tráfico de drogas e armas entre o Brasil e o Paraguai, nas cidades de Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero – PY.
Na sexta-feira (30), a quadrilha foi alvo de 12 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Foram presos nove brasileiros, um italiano, um romeno e um grego. Em Mato Grosso do Sul, foram cumpridos três mandados de busca e um de prisão, em Dourados. O chefe fugiu de helicóptero, após ter sido avisado da operação, vazamento que está sendo investigado.
As investigações mostraram que a organização criminosa detinha de grande poder bélico, com equipamentos de última geração entre coletes a prova de balas, drones, óculos de visão noturna, granadas e armamento de grosso calibre como fuzis .556, 762 e .50, capazes de perfurar blindagens e abater aviões.