Mato Grosso do Sul perdeu, nesta terça-feira (23), um dos maiores nomes não apenas da advocacia, mas da música regional. Aires Gonçalves se foi aos 75 anos deixando um grande legado.
A paixão pela música raiz nasceu ainda na adolescência, com as famosas serenatas. “Naquela época, não tinha energia elétrica em Bela Vista e quando chegou, era com motor a diesel funcionando das 7 às 10 da noite. Nós ficávamos com aquele céu maravilhoso. Este cenário que o grande arquiteto produziu, nos colocando a contemplar, nos deixava extasiados. Aprendemos a se enamorar da lua e das estrelas. Essas coisas mexem com a emoção da gente, moldando a ternura, o encanto e a música”, dividindo um pouco de sua história no Programa Piloto ‘Som & Raiz com Marcelo Loureiro’, em 2012.
Ele se refere ao lugar que nasceu, Bela Vista, como uma “cidade mágica”. Ele começou a trabalhar em uma sapataria, “como artesão trabalhava cantando”. O amor à música não foi à toa, o pai de Aires, o tropeiro e boiadeiro João Gonçalves, tocava violão nas pousadas por onde passava.
A inspiração da época vinha de canções românticas latinas. Repertório que ficou conhecido no Estado até hoje, marcando gerações de músicos e compositores da nossa terra.
No programa, ele conta sobre a escolha pela advocacia. “Um belo dia decidi ir para São Paulo. Fui sapateiro, feirante e guarda rodoviário. Um dia pisei numa folha de papel que era propaganda de um curso de Direito. Resolvi prestar vestibular e passei. Quando terminei a faculdade em Bauru, voltei e comecei a advogar em Mato Grosso em 1975”.
Dos anos 70 a 2020 foi Professor de Direito Tributário, Procurador do Estado de Mato Grosso, membro do Conselho Científico da Academia Brasileira de Direito Tributário e Vice-Presidente da Academia de Letras Jurídicas de MS. Nesse período produziu duas obras musicais, uma de bolero – paixão que não escondia – e outra de músicas românticas latinas.
Sua dedicação e sensibilidade foram fontes de inspiração aos familiares, amigos, músicos e operadores do direito.
A Presidente da Comissão de Cultura da OAB/MS Delasnieve Daspet lamentou o falecimento e deixou a mensagem sobre o colega.
Assim, de repente, ainda com a triste surpresa, numa Ode, direi ao bardo que poetas não morrem. Vão para outra dimensão.
O Aires, certamente, com sua repentina saída de cena, a caminho de Parsagada, nos deixa órfãos de sua arte, e, levara consigo a poesia de sua vida, para outras pairagens.Pela sua história, sabemos do sonhador, do cantante, do jurista, do pai de família, do vencedor. Fez um longo e belo trajeto que nos orgulha, a todos, familiares, colegas e amigos, pelo que somos gratos.
De sua Bela Vista, amada, conquistou o País e, em especial, o Mato Grosso do Sul.
Aires, levou seu conhecimento e a sua arte em forma de notas de liras. Aires, agora, brilha suave e eternamente.
Ave, Aires Gonçalves!
(Delasnieve Daspet – 23.03.21)
A OAB/MS homenageia seu legado a Mato Grosso do Sul com a lembrança de uma de suas últimas apresentações: