No âmbito da “Operação Cascalhos de Areia”, deflagrada pelo MPE (Ministério Público Estadual) no dia 15 de junho de 2023 para apurar um rombo de R$ 300 milhões nos cofres da Prefeitura de Campo Grande (MS), um relatório sobre as obras tocadas em ruas dos bairros Jardim São Conrado e Jardim Carioca pela Engenex Construções revela que os serviços não eram, na prática, efetuados.
Contudo, nos documentos mostrados pela empresa, é relatado o contrário, ou seja, a Prefeitura de Campo Grande injetava milhões de reais, arrecadados com impostos pagos pelos moradores da cidade, em contas de empreiteiras que recebiam, mas não trabalhavam.
A Engenex é uma das empreiteiras investigadas pelo MPE por crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, associados a contratos pactuados com a Prefeitura de Campo Grande para a manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinários de veículos. De 2017 para cá, a Prefeitura pagou em torno de R$ 320 milhões às empreiteiras suspeitas.
Parte do relatório, o qual o Correio do Estado teve acesso, indica, primeiro, que a empreiteira em questão não executou a manutenção, na Rua Coronel Athos P. da Silva, em um trecho compreendido entre as ruas Major Juarez de Jesus e Vinícius de Moraes. A Engenex deveria ter agido na manutenção de um trecho de 480 metros de comprimento.
Narrativa dos investigadores indica que eles foram no bairro e nas vias do São Conrado para ver se a região tinha recebido a manutenção. Diz o relatório, que moradores do bairro informaram aos investigadores “… de forma unânime e contundente, que há muito tempo não há aplicação de revestimento primário na rua, enfatizando ainda que neste ano [2022], há cerca de alguns meses, foram realizados serviços de raspagem com a utilização de motoniveladora, inexistindo qualquer tipo de aplicação de revestimento primário”.
O cascalhamento de uma rua sem asfalto é o mesmo que a aplicação de revestimento primário. Em outro trecho do relatório, o MPE arremata a ideia de que a empresa não efetuou o serviço pelo qual foi contratada pela Prefeitura.
“Importante frisar, segundo consta na planilha oficial de medição, referente ao período de 01/07 a 31/07/2022, que o trecho em análise teria sofrido intervenções nos dias 18 e 19/07/2022, ou seja, há 50 dias da data da constatação, contemplando limpeza, conformação e aplicação de 234 metros cúbicos e revestimento primário”, escreveram os investigadores.
No relatório aparecem fotografias da via investigada e é possível notar que a empresa não jogou na pista nada de revestimento primário. O MPE esteve também na Rua Vitória Zardo, ainda no Bairro Jardim São Conrado, e, lá, percebeu que a empreiteira também não aplicou na via o conhecido revestimento primário. Além da Rua Vitória, a diligência seguiu toda a extensão das ruas Valer Gustavo Escheneek e Praia Grande, algo em torno de 72 metros de comprimento.
O MPE diligenciou também na Rua Aiala Silveira, trecho entre as ruas Avenida 5 e rua Sem Saída, no bairro Jardim Carioca, região do Imbirussu. Por lá, segundo a planilha que a empreiteira descreve o que fez nas ruas, é sustentado que as vias receberam “limpeza, conformação e aplicação de revestimento primário na via”.
“No entanto, conforme observado por esta equipe durante diligência in loco, não existem indícios mínimos de intervenção na rua em análise, principalmente quanto a aplicação de revestimento primário”, cita o relatório. Investigadores do caso foram também na rua Eliza Regina, trecho entre as ruas Avenida 7 e Sílvio Aiala Silveira e, lá, também notaram que a empreiteira não executou o serviço.
Detalhe: as obras contratadas pela prefeitura deveriam ser supervisionadas por servidores da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos).