Moradores e empresários da região central de Campo Grande pediram, em audiência pública nesta quarta-feira (16), soluções para revitalizar a área central da cidade. O debate foi convocado pela Comissão Permanente de Controle e Eficácia Legislativa, composta pelos vereadores William Maksoud (presidente), Luiza Ribeiro (vice), Prof. Juari, Júnior Coringa e Claudinho Serra, e discutiu aspectos econômicos, sociais e culturais da região.
“Ouvimos a comunidade sobre quais ações são necessárias para o resgate da convivência das famílias nessa área, que é tão tradicional na nossa Cidade Morena, com fomento do comércio, segurança, espaço de cultura e lazer de qualidade. Queremos fazer um diagnóstico do Centro, com encaminhamentos que virem propostas práticas”, disse Maksoud, proponente do debate.
Segundo dados da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), o Centro de Campo Grande perdeu, nos últimos 30 anos, aproximadamente 20 mil moradores. Além disso, serviços básicos já não estão mais concentrados no miolo central, o que afasta a população para os bairros.
“A Câmara Municipal colhe todas as opiniões das pessoas envolvidas para que, através de projetos ou outras ações, possamos trabalhar para que nosso centro de Campo Grande volte a ser o que era antes. A Câmara não pode fugir desse debate. Aqui que nasce a mudança. Vamos abrir o debate pois muitas coisas podem ser feitas por meio de ações do Legislativo”, disse o presidente da Casa, vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão.
Para o vereador Ronilço Guerreiro, o poder público deve desenvolver políticas para atrair novamente a população para o centro da cidade. “O centro de Campo Grande precisa reviver novamente. Não se faz centro de cidade sem cultura. Não se faz centro de Campo Grande sem pessoas. Temos uma 14 de Julho linda, mas não temos pessoas. Tem bancos, mas não tem gente para sentar. Temos que fomentar não somente o comércio, mas também o turismo e a cultura”, pediu.
A mesma opinião tem o empresário Chico Maia. “Para existir vida nova, tem que ter gente. Tem que povoar o centro. Fazer com que a Prefeitura, através de seus mecanismos de incentivo, faça com que as pessoas voltem a morar no centro. É muito difícil ter uma parte da cidade que, de dia, tem gente, e a noite, não. Não adianta ter uma bela rua, cheia de bancos, se não tem gente para sentar”, defendeu.
Já o vereador Valdir Gomes reclamou do abandono, principalmente na Rua 14 de Julho. “Era a rua principal de Campo Grande. Hoje é a rua principal do abandono. Precisamos de prática, montar uma comissão, ou o Centro vai à falência. Tudo acabou por falta de uma administração efetiva. Fizeram um cartão de visita para Campo Grande, mas um cartão vazio. Aluguel caro e as pessoas têm medo de ir”, disse.
Segundo o vereador Papy, cabe ao Legislativo provocar o Executivo para que providências sejam tomadas. “Audiência pública é a sede do debate. Aqui, colocamos a fala da indignação, dos problemas e do diagnóstico. O Poder Legislativo é o provocador. Ele quem vai cutucar o Executivo, que vai pôr a mão na massa. Nós, corajosamente, todos os anos temos ouvido a população e aberto a Casa para dar voz a comunidade. A audiência pública é a oportunidade para esse debate ser evidenciado”, explicou.
Em sua fala, o vereador Prof. Juari defendeu maior participação da comunidade na elaboração das políticas públicas de incentivo para a área. “Fui acompanhando a degradação do Centro com o passar do tempo. O Centro está abandonado, pois não chama a presidente do bairro, os comerciantes, para discutir o que se fazer. Os projetos são elaborados em gabinetes. Quem tem que discutir o Centro é quem mora ali, quem tem comércio e vivencia o dia a dia ali. Não adianta projeto de revitalização se não ouvir quem está ali diariamente”, cobrou.
Já o vereador Prof. André Luís defendeu um amplo debate sobre o tema. “Se o diagnóstico é errado, o tratamento não vai dar certo. Essa questão é um problema que existe em várias cidades do mundo. As que resolveram esse problema, foi com urbanização e cultura. Precisa, também, de segurança ostensiva. Quero alguém na esquina, parado, mostrando que há presença física do serviço de proteção do município. Para cada problema, devemos ter uma solução diferente”, analisou.
O superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Mato Grosso do Sul, João Henrique dos Santos, lembrou que a região central é o ‘embrião’ da cidade. “Todo nosso patrimônio histórico reside na região central. Tudo isso não tem nenhum sentido se não tiver conexão com o morador. Essa área só vai melhorar quando tiver vida. Mas, que essa vida tenha uma ligação e se conecte com a região. Se aquilo que está no centro não faz sentido para o cidadão, não teremos melhorias”, apontou.
O presidente do Conselho de Segurança da Região Central, José Luiz Kreutz, afirmou que faltam políticas públicas para os moradores de rua. “Os comércios estão sendo arrombados a noite. Há roubos de fios de luz indiscriminadamente. Precisamos ter uma política pública mais austera. Para onde vai esse material roubado? O que a Prefeitura faz para que os moradores de rua tenham uma vida digna?”, questionou.
Moradores reclamam da segurança – Moradores que participaram da audiência reclamaram da falta de segurança nas ruas do Centro, principalmente durante a noite. “Falo com a experiência de dois assaltos, três roubos de fio e um de relógio. São coisas que incomodam e a gente sofre. Não posso dizer que estou feliz morando no centro. O primeiro problema é a segurança pública”, disse o geógrafo Paulo Sérgio Calves.
A presidente da Associação de Moradores do bairro Amambai, Rosane Nely, afirmou que o medo tem afastado os moradores da área central. “É um problema de saúde, de direitos humanos, de todas as secretarias. Precisamos desenvolver um projeto de políticas públicas para atender os dependentes químicos. O que adiantou a 14 de Julho com os vândalos depredando? O Centro está sendo desocupado por medo”, reclamou.
Presidente da Associação de Moradores do Caiobá II, Wesley Neres defendeu investimentos também nas periferias. “Há problemas com usuários de drogas, com roubos e furtos. Mas, se o trabalho não for feito olhando a periferia, o Centro não vai melhorar. O trabalho tem que ser feito investindo na educação das crianças nas comunidades. O trabalho de investimento na educação deve ser feito”, defendeu.
O presidente da associação dos comerciantes do Camelódromo, Narciso Soares dos Santos, cobrou mais segurança. “É preciso segurança preventiva, ronda ostensiva, para que o pai de família se sinta seguro ao fazer suas compras. Hoje, temos 12 seguranças. Quando prendemos alguém, a polícia vem. Mas cadê a polícia preventiva? Os marginais estão tomando conta. É preciso fazer algo urgente”, reclamou.