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sexta-feira, novembro 29, 2024
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Traficantes usam Pantanal como base para envio de cocaína para a Europa

Um ambiente quase inóspito, refúgio de vida selvagem, onde há apenas fazendas que criam gado na forma de pecuária extensiva e que é famoso em todo o mundo por ser a maior planície alagada do planeta.

O Pantanal pode ser um ambiente perfeito para a morada de muitas espécies, mas também foi escolhido por duas quadrilhas de traficantes, as quais mantinham conexões entre si, desarticuladas pela Polícia Federal (PF) nesta semana.

Esses grupos criminosos aproveitavam o isolamento do Pantanal de Mato Grosso do Sul para fazer do local uma de suas bases, a fim de transportar a cocaína que seria consumida em grandes centros da Região Sudeste do País ou, então, para traficar para a Europa via portos do Nordeste.

Desde terça-feira, estão presas 11 pessoas, e um dos alvos da operação morreu – provavelmente por suicídio – durante a ação para o cumprimento do mandado de prisão contra ele.

A partir do Pantanal sul-mato-grossense, a droga era levada para São Paulo ou para o Nordeste do Brasil, quase sempre de caminhão.

Para chegar às fazendas da planície alagável, pistas da região eram usadas como base para voos clandestinos vindos da Bolívia, que pousavam nas imediações de Coxim, no Pantanal do Paiaguás. Na região de Corumbá, a cocaína de origem boliviana entrava por via terrestre.

O delegado da PF Lucas Marques de Sá Vilela explica que um dos grupos de traficantes era mais especializado e fazia os transportes de ponta a ponta, cuidando de quase toda a logística dentro do Brasil. Com eles, nos últimos dois anos, as forças policiais interceptaram 2,6 toneladas de cocaína.

Esse primeiro grupo recebia a droga da Bolívia, na fronteira com Corumbá, e enviava a cocaína para São Paulo, de onde era redistribuída, seja para o mercado interno seja para a Europa.

“Os carregamentos normalmente iam de Mato Grosso do Sul para São Paulo e de São Paulo para a Bahia escondidos em cargas lícitas”, afirma o delegado. Na capital paulista e no Nordeste brasileiro, uma empresa de exportação de frutas era utilizada como disfarce para a quadrilha.

Ainda segundo Vilela, na rota de Mato Grosso do Sul para São Paulo, foram efetuados vários flagrantes de entorpecentes dessa quadrilha. Em um deles, quase 600 kg da droga estavam escondidos no motor de uma carreta. Em outra oportunidade, em cargas lícitas de minério de ferro.

As apreensões da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ocorreram, em sua maioria, nas rodovias dos estados de Mato Grosso do Sul e de São Paulo.

Integra essa quadrilha Marcelo Rocha, paulista suspeito de ser um dos chefões. A empresa de frutas está em nome dele, e os mandados de prisão da Operação Ardea Alba (nome científico da garça-branca) contra ele tinham seus endereços de São Paulo e da Bahia.

Ele, porém, acabou preso em Corumbá, sinal de seu envolvimento com o bando.

No ato da prisão, Marcelo Rocha ainda portava documento falso. Por vezes, era identificado como Marcelo Cavalcante Rocha e portava dois números de CPF para despistar as autoridades.

É desses dois grupos investigados pela PF na Operação Ardea Alba, desencadeada na terça-feira, uma das maiores apreensões de cocaína da história do Rio Grande do Norte. As investigações indicam que a droga saiu da região pantaneira, perto de Coxim.

A cocaína estava em uma carreta, flagrada no dia 19 de setembro de 2022, em São José do Mipibu (RN), rumo ao porto da capital Natal (RN). O continente europeu seria o destino principal do carregamento.

Entreposto em Coxim
É de Coxim a maioria dos presos pela Polícia Federal na operação. Geoseppe Gomes de Almeida, que em 2019 já foi preso com armamento pesado enterrado em uma propriedade em Rio Verde de Mato Grosso, teria cometido suicídio durante o cumprimento de mandado de prisão preventiva contra ele. Nessa ação, além da PF, também participaram forças de apoio, como as polícias Civil e Militar.

A quadrilha de que Geoseppe fazia parte seria encarregada de dar o apoio logístico aos traficantes, usando fazendas no Pantanal do Paiaguás como base para o recebimento de drogas que chegavam por via aérea da Bolívia e, posteriormente, eram reembarcadas em caminhões para São Paulo ou para o Nordeste.

Estava a serviço dessa quadrilha um avião de matrícula boliviana, mas que, na verdade, era um avião brasileiro roubado. O veículo foi apreendido pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) em maio do ano passado. Quando encontrado, o avião não tinha as asas.

No cumprimento dos mandados de prisão contra os suspeitos de integrarem o esquema, em Coxim, outros envolvidos acabaram presos em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.

Um deles, Wagner de Lima Gonçalves, carregava consigo uma carabina calibre 22, uma pistola calibre 380, munições para as duas armas e mais equipamentos que levantaram suspeita, como luneta para efetuar mira a longa distância e binóculo de visão noturna.

O Correio do Estado apurou também que foram alvos de mandados de prisão preventiva o policial militar de Coxim Israel Alves Figueiredo, Geraldo José Bezerra, Clodoaldo Novaes Bonfim, Douglas Marques Fernandes e Eduardo Diniz Barbosa.

De acordo com o delegado da PF, o próximo passo na investigação é investigar a lavagem de dinheiro e a ocultação de bens dos integrantes da quadrilha.

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