A Polícia Federal deflagrou, nesta quinta-feira (4), em Mato Grosso do Sul e em mais sete Estados, a “Operação Dowfall” contra uma quadrilha de traficantes de drogas que abastecia a Europa em complexa estrutura logística, como cocaína escondida no compartimento submerso de navios.
Ao todo, são cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão em oito Estados e R$ 1 bilhão em bens dos investigados foi bloqueado pela Justiça. A quadrilha, segundo a investigação da PF, tinha diversas ramificações no país, tendo como base o Porto de Paranaguá (PR).
Dessa forma, são cumpridos 30 mandados de prisão preventiva e 87 mandados de busca e apreensão em endereços nos Estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Goiás e Espírito Santo.
A ação dos traficantes abrange desde a produção da droga no exterior, ingresso e transporte no Brasil, distribuição interna, preparação e o envio dos carregamentos de cocaína para o exterior pelo mar. Do Porto de Paranaguá, grande parte da droga tinha como destino os portos da Europa.
A cocaína era levada através da contaminação de contêineres (método RIP ON RIP OFF), ocultação em cargas lícitas (RIP ON na carga), em refrigeradores de contêineres (RIP ON NO REEFER), uso de mergulhadores para inserir a droga em compartimento submerso dos navios, entre outros métodos. No decorrer da investigação, foram feitas várias apreensões, aproximadamente 5,2 toneladas de cocaína, e prisões em flagrante.
Parte dos lucros obtidos com o crime eram usados para subsidiar a ampliação da logística do grupo, como a compra de aeronaves, barcos, empresas e imóveis, além de armas de fogo e munições. Isso porque, segundo a PF, além do esquema de narcotráfico, alguns criminosos também estão envolvidos com homicídios e o tráfico de armas de fogo, munições e acessórios, fornecidas para subsidiar a guerra entre facções criminosas no litoral paranaense e impor o domínio territorial naquela região.
As investigações revelaram, ainda, que as lideranças do grupo lavavam o dinheiro do narcotráfico, principalmente, com investimento no setor imobiliário do litoral de Santa Catarina.
O esquema consistia na aquisição de apartamentos de alto padrão e financiamento para construção de empreendimentos imobiliários, o que era feito com a conivência de algumas construtoras e empresas do setor, que também são alvos da ação de hoje.
Essas empresas são suspeitas de realizarem negócios jurídicos fraudulentos ou não declarados que foram custeados com recursos do tráfico internacional de drogas, havendo indícios de que seus representantes tinham conhecimento da procedência ilícita dos valores. As investigações também constataram pagamentos de imóveis de luxo com altas quantias de dinheiro em espécie sem a devida comunicação aos órgãos competentes, bem como a utilização de interpostas pessoas para ocultar a identidade do real adquirente.
Também foi decretado sequestro de imóveis, bloqueio de bens e valores existentes nas contas bancárias e aplicações financeiras dos investigados, que totalizam um valor estimado de R$ 1 bilhão.
Os investigados na operação deflagrada hoje responderão, cada qual dentro da sua esfera de responsabilidade, pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de drogas e associação para fins de tráfico, com penas que podem chegar a 50 anos de reclusão, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 10 anos de reclusão por cada ação perpetrada.
O nome da operação Downfall faz alusão à efetiva desarticulação estrutural e financeira da Organização Criminosa, resultado este que é possível em razão da cooperação entre as instituições. Estão envolvidos na operação, cerca de 350 policiais federais, 130 policiais civis e 25 auditores da Receita Federal.