Embora não anunciado oficialmente, o deputado estadual Amarildo Cruz, do PT, que morreu dia 17 de março, em hospital de Campo Grande, foi vítima de uma pneumonia grave, infecção nos pulmões que progrediu para a miocardite, distúrbio que enfraquece a frequência cardíaca, o que o levou à morte.
A informação é da servidora da prefeitura de Campo Grande, Simone Lucena do Nascimento, mulher do parlamentar, que ainda muito abalada concedeu entrevista exclusiva ao Correio do Estado, por telefone.
O Correio do Estado, ainda no dia 17, cinco horas depois de divulgada a morte de Amarildo, publicou reportagem que, sustentada por declarações de um médico amigo da família do parlamentar, já adiantara que “pneumonia fulminante” tinha matado o deputado.
AS FALAS DE SIMONE
“Estava tudo bem, tudo ótimo [com o deputado]. Ele almoçou muito bem e estava bem saudável. Não tinha nada, absolutamente nada. Estava saindo de um resfriadinho, que já estava acabando”.
Amarildo Cruz tinha participado da sessão na Assembleia Legislativa, na manhã do dia 17 até por volta do meio-dia. Daí, ele foi para casa e almoçou com a mulher.
“E aí ele almoçou super-bem, super-feliz, não sentindo nada. Lá pelas 14h, ele começou a ter um tremor. Tremor no corpo. [Ela soube que o marido estava sentido-se mal, por telefone – Amarildo havia ligado a ela, que tinha ido para o trabalho]. Daí eu disse a ele: então eu vou aí ver você”.
Simone afirmou que retornou para o apartamento, e logo percebeu que Amarildo estava com febre, sentindo calafrios [tremores pelo corpo e uma sensação de arrepio].
“Daí eu dei a ele um antitérmico [remédio que reduz a temperatura do corpo] e não baixou a febre”.
Simone disse que logo depois medicamentou o marido com Paracetamol, remédio recomendado para baixar a febre e para o alívio temporário de dores leves a moderadas, tais como: dores associadas a gripes e resfriados comum. Deu certo por algum tempo, mas logo o parlamentar sentiu-se, de novo, mal-estar, agora noutro ponto do corpo.
“E aí em questão de hora, assim, ele começou com a dor no peito, uma dor no peito, queimando pra respirar. Aí eu falei para ele, então vamos ao médico, agora. Não é só uma febre normal de resfriado, né? [disse ao marido]. Levei ele ao pronto-socorro ali da Maracaju [hospital Proncon, unidade da rua Maracaju], fomos no meu carro”.
Simone disse que assim que chegou ao hospital, a dor no peito do parlamentar aumentou tanto que os médicos que o atenderam pensaram que Amarildo estaria sofrendo um infarto. Inclusive, foram feitos exames e nada diagnosticaram.
“Não, não deu nada [exame no coração]. E aí foi só agravando essa dor no peito e dificuldade de respirar cada vez maior. Aí transferiram ele de ambulância, fui junto com ele”.
Como a dor não sumia, os médicos determinaram a transferência de Amarildo para outra unidade do Proncor, na região do shopping Campo Grande.
“Na ambulância, tentava acalmá-lo [Amarildo demonstrava nervosismo por não entender o que acontecia com ele]. Ao chegar no hospital, já correram com ele e até fizeram uma tomografia [exame de imagem não invasivo, que pode ser utilizado como um exame de apoio para os médicos com o objetivo de analisar diferentes partes do corpo]. E até um cateterismo [procedimento para diagnosticar ou tratar doenças cardíacas] fizeram e não deu absolutamente nada, deu uma manchinha no pulmão, uma bactéria bem pequena. Então, como ele estava com muita dificuldade de respirar, aí o médico manteve ele na UTI”.
Isso ocorreu até por volta da 1h da manhã já da quarta-feira (15) – o deputado deu entrada no hospital às 22h [antes ele tinha ido para o Proncor da rua Maracaju], segundo boletim médico. Daí, Simone voltou a ver o parlamentar somente no outro dia, na quinta, no horário de visita aos pacientes, à tarde.
“[às 15h30 minutos da quarta-feira] Estive com ele. Ele estava com muita dificuldade de respirar, muito ansioso, muito nervoso, uma coisa assim desesperadora para mim, foi a última vez que eu falei com ele ao vivo. É tão difícil falar isso. Aí ele estava muito nervoso, muito ansioso e até perguntei pra ele se ele queria que o transferissem. Estava realmente cogitado para transferí-lo para São Paulo. Falei com ele, se ele autorizava, se ele queria e ele disse que sim, que podia levar. Mas os médicos disseram que em nenhum momento deu condições de levá lo daqui. Por isso que nós não aprovamos”.
Ainda no horário da visita, na quarta, Simone disse ter conversado bastante com o marido.
“Falei que o amava, tentando tranquilizá-lo, porque ele estava muito, muito nervoso com a situação. Ele falava assim: eu nunca tive nada, eu nunca tive nada. Por que que eu estou assim? O que que está acontecendo? Falei: calma, meu amor, você vai ficar bem, você vai ficar bem. Mas como ele estava muito nervoso, daí na hora que eu saí da visita eu conversei com o médico, contei a história de que ele estava muito nervoso, ele está agoniado, com dificuldade de respirar. {depois de sair da visita, por volta das 19h, Amarildo foi intubado].
Dali em diante, depois da visita à tarde que fez, Simone não mais falou com o marido
Simone disse que a trasferência foi desaconselhada porque o estado de saúde do marido era tido como muito grave. A bactéria progrediu e os batimentos do coração caíram. Os órgãos do corpo de Amarildo foram afetados, o primeiro o rim. Na diálise [procedimento que filtra o sangue], segundo Simone, o deputado sofreu a primeira parada cardíaca e foi reanimado, mas depois foi afetado por mais duas.
Ela revelou ainda que Amarildo foi submetido a um exame para ver se ele havia contraído Codivd-19, mas deu negativo o teste.
Antes de ficar internado, o deputado, segundo a servidora municipal, nunca teria enfrentado problemas sérios com a saúde. Ela diz que sempre acompanhava Amarildo em consultas médicas e revelou que havia uma questão enfrentada, mas sem gravidade.
“Nunca [teve de ficar internado], nunca, sempre muito saudável. Como eu estou te falando, ele ia [hospital] pra tirar a pedra no rim. Aí ficava tudo certo, entendeu? Tanto que fiquei algumas vezes com ele no hospital, mas só pra tirar pedras no rim. Ele voltava zerado. A gente brincava e dizia que a disposição dele [Amarildo], saúde, fariam com que vivesse por uns 100 anos”.
Logo depois da morte de Amarildo surgiram boatos indicando que ele poderia ter adoecido por uma infecção em um dos dentes, rumor negado por Simone. Ela afirmou que o marido tinha ido a um dentista há pelo menos uns três meses e que nada de errado teria ocorrido.
A morte de Amarildo foi decretada por volta das 12h40 minutos da sexta-feira, dia 17.
Na entrevista desta quarta-feira, pela manhã, Simone disse que os médicos que cuidaram do deputado mantinha a família inforada o tempo todo.
“Eles [médicos] explicavam tudo. Passavam tudo, tudo sempre. A médica responsável por ele muito, muito atenciosa, muito competente. A doutora Juliana, muito atenciosa, sempre me passando pelo WhatsApp me ligando, entendeu? Tenho todas as conversas com ela assim e ela. Meu cunhado é médico também. Eles fizeram de tudo. Montaram uma rede, uma comissão de médicos lá dentro do hospital, junto com ele, entendeu? Pra tentar fazer alguma coisa, porque foi uma coisa muito rara, muito agressiva. Tomou rumo muito rápido, uma fatalidade mesmo”.
Pneumonia grave – a complicação mais comum no caso de uma pneumonia que leva um paciente à morte é o baixo nível de oxigênio na corrente sanguínea, causando falta de ar e que pode causar um quadro de insuficiência respiratória, além de uma parada cardiorrespiratória.
MIOCARDITE
Na maioria das vezes, a miocardite surge após uma infecção viral, bacteriana, por fungos ou parasitária. Assim, pode ser uma complicação dos quadros mais comuns de gripe até de infecções diretamente relacionadas ao coração, como febre reumática e doença de Chagas.
Miocardite é a inflamação do tecido muscular do coração (miocárdio) que causa a morte do tecido.
A miocardite pode ser causada por muitos problemas, incluindo infecção, toxinas e medicamentos que afetam o coração, e por distúrbios sistêmicos, como sarcoidose, mas muitas vezes a causa é desconhecida.
Os sintomas podem variar e podem incluir fadiga, falta de ar, inchaço (edema), percepção dos batimentos cardíacos (palpitações) e morte súbita. Cinco horas depois de anunciada a morte de Amarildo, em entrevista ao Correio do Estado, um amigo da família do deputado, sob segredo, adiantou a causa da morte.