Neste domingo (26), dia em que se completa um mês da morta de Sophia Ocampo, 2 anos, assassinada pela mãe e pelo padrasto, os pais, avó materna, parentes e amigos fizeram uma passeata para cobrar que medidas efetivas sejam tomadas para obter Justiça no caso da menina.
Sophia morreu após ser agredida pela mãe, Stephanie de Jesus da Silva, de 24 anos, e pelo seu padrasto, Christian Leitheim, de 25 anos, no dia 26 de janeiro deste ano.
Conforme reportagem do Correio do Estado publicada nesse sábado, por trás dos erros dos sistemas de saúde, da justiça e do Conselho Tutelar, nenhuma mudança no combate à violência contra a criança saiu do papel em Mato Grosso do Sul.
Hoje, cerca de 30 pessoas se reuniram em frente ao Aquário do Pantanal e fizeram uma passeata até o semáforo em frente a um bar, nos altos da Avenida Afonso Pena, onde entregaram panfletos sempre que o sinal fechava.
Com camisetas com a foto da criança e balões pretos, eles exibiam faixa com o artigo 227 da Constituição Federal, que dispõe sobre ser dever do Estado, família e sociedade assegurar direitos à criança.
Conforme os pais de Sophia, Jean Carlos Ocampo e seu marido, Igor de Andrade, o objetivo é chamar a atenção e pressionar para que novos casos semelhantes ao de Sophia não venham a acontecer.
“Nesse prazo de um mês, após a Sophia, a gente já viu mais quatro casos novos. O que mais sangra o nosso coração, o que mais nos revolta além da nossa filha, é que não tomaram nenhuma atitude”, disse Igor.
“O que está lutando aqui hoje é justamente para a prevenção. O Brasil, infelizmente, não trabalha com prevenção à agressão à criança”, acrescentou.
Pais de Sophia, Jean e IgorPais de Sophia, Jean e Igor dizem que não irão parar de lutar até que medidas sejam tomadas (Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado)
Ainda segundo Igor, a passeata e ação no semáforo visa demonstrar que a família não irá se calar, para evitar, dessa forma, que o caso seja “abafado” e que Sophia vire “mais uma estatística”.
“Infelizmente nossa filha foi tirada da gente da pior forma, então, se a gente precisar ter que ir a público e gritar por 30, 40, 80, 10 anos para a frente, a gente vai até que a gente veja a mudança e que não existam mais Sophias, que não exista mais outras crianças passando pelo que a nossa filha passou, que haja medidas efetivas”, relatou.
Os pais ressaltaram ainda que as manifestações, tanto a de hoje quanto as futuras, serão sempre ordeiras, para que as pessoas não entendam como baderna.
O período também é curto devido à família ainda estar em luto.
“O intuito é a Sophia, é falar sobre a Sophia, que olhem para a Sophia, porque o que a gente sente é que mesmo depois de assassinato da nossa filha, não olham para a Sofia, a maioria das pessoas quer
olhar outros fatos, como dois pais e outras coisas e não olham para a Sophia, e esse é o motivo da gente estar aqui”, concluiu Igor.
A avó materna de Sophia, Delziene da Silva de Jesus, também esteve presente e disse que, mesmo tentando se reerguer, o momento é de buscar justiça.
“O coração da gente está sangrando, mas toda ação que a gente faz é para o bem. Infelizmente aconteceu com minha neste e está acontecendo com filhos e netos de várias pessoas. Então a gente briga para que as pessoas comecem a olhar mais as crianças, porque são indefesos”, contou.
Delziene disse que não mantinha muito contato com a filha, por não concordar com o relacionamento dela, mas que buscou uma reaproximação após o nascimento de Sophia.
A avó relata ainda que conversava para que as crianças não fossem criadas em ambiente de briga, mas sem sucesso.
“Tem dias que eu acordo e acho que eu estou em um pesadelo e nada disso aconteceu”.
Ela acrescenta que não teve contato com a filha após o crime e diz não saber se algum dia conseguirá perdoar a filha.
“Não sei se um dia eu vou conseguir perdoar. Eu não consigo nesse momento, não sei daqui mais um tempo o que vai acontecer, mas nesse exato momento é imperdoável, mesmo sendo minha filha”, disse.
Prima de Sophia, Adriele Cristina explica que no folheto distribuído há um QR Code que direciona para um grupo criado para divulgar o caso.
“Quanto mais gente falando sobre o caso, a gente vai conseguir um apoio maior para buscar justiça, não só pela Sophia, mas por milhares de outras crianças que passaram e ainda estão passando por isso e sendo negligenciadas”, disse.
Ela ressalta ainda todas as tentativas feitas pela família e, principalmente, pelos pais, que poderiam ter evitado a morte da menina, como registro de boletins de ocorrência e pedido de guarda, além das 30 entradas em unidades de saúde, que não foram apuradas.
“A gente quer que a justiça seja mais severa com esses casos, porque a gente tentou salvar a Sophia, mas infelizmente não deram ouvidos para a gente.
Devido à chuva que começou a cair em Campo Grande, a passeata e panfletagem durou cerca de uma hora e meia.
Caso Sophia
Sophia morreu no dia 26 de janeiro de 2023. Ela foi levada pela mãe até uma unidade de saúde, onde foi constatado que ela já estava morta há cerca de 7 horas e com ferimentos que indicavam que ela foi agredida e abusada sexualmente.
Christian Campoçano Leitheim, 25, e Stephanie de Jesus da Silva, 24, padrasto e mãe da menina, respectivamente, se tornaram réus por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, contra menor de 14 anos e meio cruel, sendo que o padrasto também é denunciado pelo crime de estupro de vulnerável.
A mãe também acumula a denúncia de homicídio doloso por omissão, já que só encaminhou a menina à Unidade de Pronto Atendimento aproximadamente sete horas após sua morte.
Antes de morrer, a criança deu 30 entradas em unidades de saúde devido à agressões que sofria.
Após o crime, a mãe e o padrasto ainda combinaram uma versão para dar à polícia.
Até o momento, as medidas anunciadas para que casos como o da menina de apenas dois anos não se repitam continuam como promessas.
Na prática, o Estado só propôs medidas para atendimento às vítimas após os crimes serem consumados, o que, de forma imediata, não é suficiente para evitar que crianças e adolescentes continuem sendo as maiores vítimas de violência sexual em Mato Grosso do Sul.
Com informações do Correio do Estado