Em Audiência Pública na Câmara Municipal de Campo Grande, os vereadores destacaram a necessidade de um esforço coletivo para agilizar as melhorias no trânsito da BR-163, na entrada do Jardim Noroeste. O debate, na manhã desta sexta-feira, foi proposto pelo vereador Professor Riverton, da Comissão Permanente de Obras e Serviços Públicos, e reuniu moradores da região, deputados federais, representantes da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Polícia Militar, Polícia Civil, Samu e prefeitura.
O vereador Professor Riverton garantiu que serão cobrados os investimentos que deveriam ser executados pela CCR MS Via, responsável pela BR-163, além da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que tem o dever de fiscalizar os trabalhos da concessionária. Uma comissão será criada na Casa de Leis para discutir a questão e fortalecer a cobrança das melhorias pela CCR, em conjunto com deputados federais, senadores, ministro dos Transportes, Renan Filho, prefeita Adriane Lopes e governador Eduardo Riedel.
Na sessão ordinária da próxima terça-feira, o vereador colocará em votação requerimento para convocação da CCR a dar explicações sobre os investimentos. Apesar do convite, nenhum representante da concessionária compareceu na Audiência, o que causou indignação aos presentes. “Ali é um risco diário, moradores me confidenciaram que ficam no serviço até uma ou duas horas esperando o fluxo de veículos baixar para chegar em casa. É uma roleta-russa. Precisamos de uma força coletiva para que as melhorias saiam do papel”, disse o vereador Professor Riverton.
O vereador lembrou que a CCR investiu cerca de R$ 2 bilhões nas rodovias de Mato Grosso do Sul, mas o compromisso era de R$ 16 bilhões. “O primeiro passo para ter uma resposta e ação a curto prazo é que a CCR viesse mostrar o que vem sendo feito e os prazos”, disse.
O vereador Landmark, que secretariou a Audiência, falou da necessidade de apurar quem retirou a sinalização, que já era insuficiente, no trecho da BR-163, perto do Noroeste. Ele também cobrou indicativo para colocação de redutores e fiscalização rigorosa na região. ”Hoje ocorre ali uma transferência de responsabilidades, em que ninguém pode colocar lombada”, criticou.
Reivindicações
Moradora há mais de 20 anos da região, a presidente da Associação de Moradores do Jardim Noroeste, Valmira Rigoti, reclamou da entrada mal projetada para o bairro e relembrou a morte do motociclista Roger de Almeida Barbosa, 33 anos, no último dia 27 de janeiro. “Era um trabalhador, pai de família. Ele saiu para fazer serviço no Taquaral, mas não retornou para sua casa. Seus filhos estão lá sem o pai. Não queremos que ele seja só um número na estatística. A morte foi o pavio de uma grande revolta no bairro. Hoje temos aqui os vereadores, dois deputados federais e peço que nos ajudem. Nosso apelo é para que façam algo por nós. Chega de vidas perdidas!”, afirmou.
Tio de Roger, Damião dos Santos, fez um apelo para que todos olhem pela região e classificou a entrada para o bairro de “arapuca”. “Viemos pedir para alguém arrumar, para parar de morrer gente. Meu sobrinho não voltou para a casa. É triste. Falo aqui por ele e outras famílias que perderam gente lá”, disse. Um dia após a morte, moradores fecharam temporariamente a rodovia em protesto e muitos receberam notificações judiciais, o que gerou reclamações.
Moradores dos bairros Serraville, Maria Aparecida Pedrossian, Dom Antônio Barbosa e Chácara dos Poderes também estiveram presentes na Audiência, cobrando melhorias.
Melhorias urgentes
Claudio Antonio Cavol, do Setlog (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul, manifestou o descontentamento do setor, que emprega mais de 30 mil motoristas. “Temos sentido na pele aumento de fluxo de veículos na BR-163 e os investimentos dos últimos dez anos foi ínfimo, não traduz a realidade que essa rodovia precisa hoje”, afirmou. Ele falou da negociação para que a CCR continue responsável pela BR-163 por mais 30 anos, o que implica em discutir essas providências. Outra preocupação é com o rodoanel, que precisa ser repensado.
De 2022 a 2025, foram mais de 15 mortes na BR-163, no trecho entre a saída para Três Lagoas à saída para Jaraguari. “Tentamos com esforço gigantesco reduzir acidentes, pedimos atenção aos motoristas. Esse número é muito significativo em relação à perda. Cada uma dessas mortes representa também uma família destruída”, disse João Paulo Pinheiro Bueno, superintendente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Mato Grosso do Sul. Ele cobrou uma solução imediata, e não apenas para daqui a 5 ou 10 anos. “Moradores de bairros como Noroeste e Nova Lima precisam chegar em casa em segurança”, disse.
O vereador Flavio Cabo Almi, presidente da Comissão Permanente de Obras e Serviços Públicos, lembrou que todos podem ser vítimas de acidentes na BR-163. “Sempre fica uma indignação de não ter barreira física que não consiga impedir de ter mais vítimas no trânsito. Só quem perde ente querido sabe a dor. Essa audiência nos une na responsabilidade de cobrar e a responsabilidade hoje está nas mãos da CCR. Vamos cobrar rigorosamente”, afirmou.
“Temos moradias ali, temos empresas e precisamos arrumar o trânsito. Hoje, os moradores têm que conviver com essa desordem. Vamos conter a velocidade, com redutor ou semáforo. Não podemos mais receber de novo os moradores com a mesma reivindicação”, manifestou a vereadora Luiza Ribeiro. Ela também cobrou a necessidade de um novo anel rodoviário e também o asfaltamento da rua de acesso ao Jardim Noroeste, pela prefeitura.
O deputado federal Vander Loubet destacou a importância da Audiência na Câmara, lembrando o papel dos vereadores nessa discussão. “O cidadão mora no município e precisa dessa resposta. Só vamos buscar solução se houver empenho de todos Município, Estado e Governo Federal, cada um fazendo sua parte”, afirmou. Ele criticou o desrespeito da CCR em não comparecer para dar explicações e cobrou a necessidade de intervenções no local, para colocar algum redutor de velocidade. Ele lembrou que a Bancada Federal destinou R$ 90 milhões para obras, incluindo um viaduto na entrada do Jardim Noroeste e outro na rotatória da Coca Cola, cobrando a necessidade de execução das obras.
A reunião de parlamentares de esquerda, direita e centro com o mesmo objetivo foi elogiada pelo deputado federal Marcos Pollon, também presente na Audiência. “A 163 não é minha, é nossa. Estamos pedindo o que é direito nosso, que é ter segurança ali. Temos que exigir. Todos ficam empurrando a resposta. A CCR arrecadou mais de R$ 200 milhões. Quanto custa cada vida dessas? O filho que não vai ver um pai?”, questionou. Ele informou que já oficiou as câmaras municipais por onde a BR-163 passa em Mato Grosso do Sul para promoverem audiências públicas semelhantes à da Câmara de Campo Grande e debaterem os investimentos da concessionária. O parlamentar também encaminhou denúncias ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público Federal.
O superintendente de projetos da Secretaria Municipal de Infraestrutura de Campo Grande, Múcio Teixeira, afirmou que a pasta já está desenvolvendo o projeto para a obra do viaduto, no cruzamento com a Rua Água Azul, na entrada do Jardim Noroeste. Falou ainda das medidas mais definitivas, com o traçado do novo Anel Rodoviário.