Sem os dois homens apontados como os assassinos de aluguel contratados para matar Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, e Jamil Name, que para a Operação Omertà liderava máfia capaz de eliminar quem ficasse no caminho, “o maior júri da história de Mato Grosso do Sul”, como classifica o promotor Moisés Casarotto, vai terminar com o banco dos réus pela metade. Quatro anos após a execução sumária do jovem estudante de Direito e prisões, dois acusados estão mortos e um terceiro “virou fumaça”.
Desde segunda-feira (17), Jamil Name Filho, 46, é julgado por cinco homens e duas mulheres, representantes da sociedade no Tribunal do Júri, por mandar matar o pai do universitário, Paulo Roberto Teixeira Xavier, 52, plano que terminou com o acadêmico fuzilado na porta de casa. Com três condenações, pelos crimes de extorsão armada, formar organização criminosa e porte ilegal de armas – que já somam 23 anos e 2 meses de prisão –, “Jamilzinho”, como é conhecido, enfrenta um júri popular pela primeira vez.
Ele se senta no banco dos réus ao lado do ex-guarda municipal Marcelo Rios, 46, e do policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, 64, ambos acusados de serem os responsáveis por arquitetar o assassinato e contratar os pistoleiros para colocar o projeto em prática.
“Livres” do Tribunal do Júri estão Jamil Name, que morreu em 27 de junho de 2021, aos 82 anos, além de José Moreira Freires, o “Zezinho”, e Juanil Miranda. Estes dois últimos apontados pela Omertà como os executores de Matheus Xavier.
Figura fácil nas colunas sociais de Mato Grosso do Sul por décadas e nome atrelado a incontáveis “lendas”, boas e ruins, o “Velho”, como Name era chamado pelos agentes das forças de segurança pública que faziam “bico” como guarda-costas dele e da família, era considerado pela investigação como o “Poderoso Chefão” na organização criminosa, que comandava do jogo do bicho à “milícia que mata” em Mato Grosso do Sul.
Name saiu preso da casa onde vivia, num condomínio luxuoso do Jardim São Bento, bairro nobre da Capital, no dia 27 de setembro de 2019, e nunca mais voltou. Em outubro daquele ano, foi transferido para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grade do Norte, onde passou 21 meses até falecer em hospital, vítima da covid-19. Após a morte, nos processos em que respondia, consta como extinta sua punibilidade.
Pistoleiro
O mineiro, natural de Pirapora (MG), José Moreira Freires teria 49 anos hoje, se não tivesse morrido em dezembro de 2020, em troca de tiros com a polícia, coincidentemente em cidade do interior a 270 km de Mossoró (RN), onde os outros réus estavam presos. “Zezinho”, conforme detalhado por uma das testemunhas que depuseram no júri, teria sido o responsável pelos tiros de fuzil AK-47 que mataram o universitário.
Ele era condenado pela execução do delegado aposentado Paulo Magalhães, de 57 anos, ocorrida em 2013, outro desafeto dos Name, segundo a Omertà, e quando Matheus foi morto, em abril de 2019, era monitorado por tornozeleira eletrônica. Uma das provas juntadas no processo foi os dados do monitoramento, que mostram Zezinho nas proximidades da casa no Jardim Bela Vista, onde a vítima morava com o pai, dias antes do crime.
Freires morava há dois meses em Lagoa de Pedra (RN) e mantinha laboratório para produção de crack, quando foi investigado e abordado pela polícia nordestina. Próximo ao corpo, após a troca de tiros, agentes encontraram uma pistola roubada de um policial da cidade. A abordagem ao suspeito de tráfico pela Deicor (Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado) aconteceu na zona rural.
Zezinho também era ex-guarda civil metropolitano de Campo Grande e teve o nome excluído do processo que julga a morte de Matheus depois do confronto.