O consumidor pode esperar mais um aumento de preço, desta vez, do óleo de soja. A quebra da safra da oleaginosa na Argentina, que sofre com estiagem prolongada, mais a decisão da semana passada do governo federal de aumentar a porcentagem de biodiesel no diesel nacional de 10% para 12%, a partir de abril, têm grande potencial de elevar o preço do produto ao consumidor.
A decisão, conforme análise de especialistas, deve causar ganhos para produtores, enquanto o peso poderá ser maior no bolso do consumidor.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a decisão acarretará aumento de R$ 0,02 no preço do diesel nas bombas no próximo mês. A medida deve ter um impacto em efeito cascata para quem abastece com óleo diesel.
Por outro lado, o aumento de biodiesel (que é feito de soja) ao diesel e a quebra da safra de soja na Argentina, que é o maior exportador mundial de óleo e farelo de soja, devem aumentar a demanda para exportação destes dois produtos a partir do Brasil.
Em Mato Grosso do Sul, conforme dados da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), 42% da commodity produzida no Estado já é esmagada (transformada em óleo ou farelo).
Para o economista Eugênio Pavão, a crise na produção de soja da Argentina é uma oportunidade de o setor produtivo de Mato Grosso do Sul ganhar mercados. “Em outras situações, quando houve quebra nos Estados Unidos, conseguimos aumentar nossa produção e conquistar novos mercados”, lembra Pavão.
Para o consumidor, porém, os analistas acreditam em uma alta de preço do óleo de soja.
Biodiesel
Quanto ao biodiesel, a medida foi anunciada por Silveira após reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), primeiro encontro do colegiado neste ano.
O ministro tentou minimizar o impacto para o consumidor, além de ter anunciado que haverá escalonamento de um ponto porcentual ao ano até a mistura o índice de biodiesel misturado ao óleo diesel chegar a 15%, em 2026.
Esse reajuste na porcentagem obrigatória do biocombustível deveria seguir o cronograma estipulado em 2019 pelo Ministério de Minas e Energia, que deveria ter entrado em vigor neste ano.
A proposta era, conforme a política nacional de biocombustíveis (Renovabio), ampliar a mistura do biodiesel ao diesel em 1% ao ano, partindo de 11% até chegar a 15% em 2023. Porém, os porcentuais foram alterados pelo governo Jair Bolsonaro (PL), na tentativa de conter mais aumentos nos combustíveis às vésperas das eleições, no ano passado.
Em Mato Grosso do Sul, a notícia é positiva principalmente para o produtor e o meio ambiente, porém acaba indo para a conta do consumidor, conforme avalia o economista Eugênio Pavão. “O diesel é de propriedade da Petrobras, enquanto o biodiesel é de propriedade do setor privado.
Quando a demanda por esses combustíveis privados cai, geralmente o governo atende ao lobby e aumenta a participação, como uma forma de manter e melhorar a demanda para esse setor. Pelo lado ambiental, o aumento da mistura significa menos combustível fóssil, sendo esse o maior ganho”, comenta.
“Para atender essa demanda do biodiesel, o governo estimula a produção interna, ou seja, pequenos produtores, já que as grandes produtoras de soja já têm seu produto vendido para o exterior, reduzindo a produção interna. Desta forma, ganham pequenos produtores, ganha a natureza e ganham produtores de animais que têm a soja para consumo animal. Perde o consumidor final, já que aumenta o preço nas bombas”, detalha.
Aumentar a quantidade de biodiesel no combustível significa também destinar mais farelo e óleo de soja para esses fins, demanda que, ainda de acordo com a avaliação de Pavão, Mato Grosso do Sul dá conta de assumir.
“A produtividade da soja em Mato Grosso do Sul cresce a cada ano”, reforça.
“Da soja são produzidos óleo, produtos para sabão, entre outros. Ou seja, 80% do grão vira diversos produtos, 20% vira farelo. Isso pode ser calibrado para o mercado interno e externo”, explica.
Produção agrícola
A soma de todos os produtos agrícolas a serem colhidos em Mato Grosso do Sul neste ano deve chegar a 70,57 milhões de toneladas.
Caso esse dado se concretize, o volume será mais de 10% superior ao apurado no ano passado.
Os números são da Carta de Conjuntura da Agropecuária, elaborada pela Coordenadoria de Economia e Estatística da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), com base no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a Semadesc, esses valores já representam uma forte recuperação do setor, que esteve em queda nos últimos três anos. Projeta-se que sejam colhidas 13,11 milhões de toneladas de soja, um aumento de 53,58% em relação ao volume colhido no ano passado e uma área 3,63% maior.