Com casos recorrentes de apreensão de cocaína e novos recordes, o subcomandante do 5º Batalhão de Polícia de Choque, major Anderson, afirma que Campo Grande se tornou um entreposto para a distribuição de drogas para o restante do Estado.
Isso porque, apenas na noite de quinta-feira, foram interceptados 839 quilos de cocaína em um galpão localizado próximo ao Anel Viário, que passa pelo lado oeste da cidade até a saída para Três Lagoas. Além da quantidade de drogas, a localização, que fica na saída da Capital, pode facilitar o transporte para o interior.
A apreensão foi feita pelas equipes do Batalhão de Choque e da 10ª Companhia Independente da Polícia Militar, no entanto, em apuração realizada pelo Correio do Estado, nenhum dos setores envolvidos no caso está em posse do montante apreendido.
Após a interceptação, o subcomandante do Choque informou que o material foi levado para a Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico (Denar), que constatou que se tratava de fato de cocaína, além de 20 kg de skunk encontrados no mesmo local.
Nesta sexta-feira, a Denar relatou que o procedimento padrão é encaminhar o montante encontrado para a 10ª Companhia da Polícia Militar ou para a Polícia Federal.
A delegacia destacou que, mesmo que a cocaína apreendida estivesse no local, não poderia informar por questões de segurança.
Ao ser questionado novamente, o Choque afirmou que os entorpecentes foram encaminhados à Polícia Civil, já que não se trata de um crime de cunho federal, mas a Polícia Federal poderia ceder o espaço e a estrutura policial para armazenar a droga, visto que a incineração só pode acontecer após mandado judicial.
“Não conseguimos afirmar se o ocorrido acerca da apreensão seguirá para outras esferas, como a Polícia Federal, por exemplo. A partir desse momento, as investigações são de parte da Polícia Civil, uma vez que atuamos apenas nas questões de flagrante e nos momentos de operação, nada além disso”, detalhou o Choque.
“Daqui em diante, as coisas devem ocorrer de forma sigilosa, sobretudo por conta dos valores e da quantidade apreendida”, concluiu a assessoria do Choque.
O Batalhão de Choque ainda destacou que todos os setores poderiam informar que a droga apreendida não está sob sua responsabilidade, para que não fiquem pistas da localização do material.
“Todos os setores envolvidos estão lidando com a situação de uma forma ‘não está mais comigo’, justamente para não dar pistas de nenhum local ou endereço para que os donos da droga não possam ‘recuperá-la’”, explicou.
Caso
Como apurado anteriormente pelo Correio do Estado, o caso de quinta-feira foi a maior apreensão de cocaína feita pelas polícias de Mato Grosso do Sul.
Conforme o subcomandante do Choque, equipes do pelotão foram acionadas pela 10ª Companhia de Polícia, por volta das 19h, para abordar um veículo que havia descarregado um grande volume de material em caixas.
Segundo o policial que contatou o Choque, informações apontavam que as caixas encontravam-se em um galpão no Bairro Universitário.
“Quando a equipe do Batalhão chegou ao endereço para fazer a abordagem, ela não localizou o veículo, mas o pessoal viu onde havia sido descarregado esse material em caixas”, comentou o major Anderson.
Ainda conforme as polícias, diligências estão sendo trabalhadas pela Polícia Militar para tentar localizar ou identificar a autoria da droga, avaliada em cerca de R$ 65 milhões.
“Por conhecimento empírico das situações, a gente acredita se tratar de um consórcio de traficantes, quando o volume é muito alto, ainda não foi identificado um autor específico”, finalizou o subcomandante do Choque.
Apreensão histórica
No dia 27 de fevereiro, Mato Grosso do Sul ficou registrado como o estado com a maior apreensão única de cocaína feita pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na história. Foi encontrada 1,86 tonelada de droga em um caminhão-tanque no município de Sidrolândia, com prejuízo estimado em R$ 354 milhões.
De acordo com a PRF, o condutor foi contratado para transportar a cocaína de Jardim para Campo Grande por R$ 20 mil mais um veículo como pagamento. O homem, de 44 anos, foi preso na operação e ainda revelou que a droga seria entregue para uma pessoa conhecida em um posto de combustível da Capital.
Recorde
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foi constatado um aumento nas apreensões de cocaína em Campo Grande, uma vez que foram apreendidas 2,5 toneladas da droga em 2021 e 6,1 toneladas em 2022, um aumento de 97%.
Apenas nos quatro primeiros meses de abril, foram interceptados 851 kg na Capital.
No Estado, foram apreendidos 1.100,683 kg de cocaína apenas nos primeiros dez dias deste mês, o que já supera a quantidade de quilos apreendidos em todo o mês de março, que registrou 1.075,417 quilos interceptados.
Em 2022, foram apreendidas 16,4 toneladas de cocaína em Mato Grosso do Sul. O volume interceptado foi o maior em oito anos de fiscalização. Em todo o ano de 2021, a apreensão de cocaína pelas forças de segurança estaduais chegou a 8,1 toneladas.