Após concluir as investigações sobre o caso de um menino de apenas 2 anos de idade que está em coma na Santa Casa de Campo Grande com traumatismo craniano e lesões nos pulmões e no fígado, a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) prendeu o padrasto e a mãe biológica, que foram apontados como os responsáveis pelo estado de saúde da criança.
Segundo a delegada de Polícia Civil Nelly Macedo, o casal vive em situação de rua, o que dificultou a identificação do local onde as violências praticadas contra a criança aconteceram. Isso porque o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado em via pública, a duas quadras da residência onde a família, que além da vítima também era composta por uma menina de 4 anos, estava se hospedando temporariamente – de forma irregular – durante à noite.
Além disso, as versões dos depoimentos eram confusas e inconsistentes, pois foram apresentadas três narrativas, sendo a primeira de que a criança havia se acidentado caindo na rua. “As diligências no local não deixavam conclusivas as situações, porque era uma via que não era nivelada, com degraus nas calçadas, e talvez pudesse ter acontecido ali o suposto. Mas havia também o relato da mãe, de que a criança talvez teria caído dentro da casa em uma escada”, comentou Nelly Macedo.
No hospital, foram identificadas as demais lesões nos órgãos vitais da criança, o que fez com que a primeira versão apresentada fosse descartada. “Nós começamos a suspeitar dessas dinâmicas narradas. Quando chegou a informação do grau das lesões que a criança havia sofrido, que eram lesões graves, nos fez suspeitar que não se tratava de um acidente, mas sim de algum ato violento contra essa criança”, destacou a delegada.
Através de câmeras de segurança, foi possível identificar que o casal havia invadido uma residência que estava à venda no Bairro Jardim Colibri, onde passavam a noite. A família vivia de casa em casa, de forma irregular, e chegou até a morar em uma kombi abandonada durante um período. “Há imagens deles correndo com a criança [no dia do acidente], fugindo para que o local do fato não fosse identificado. E pudemos constatar que essa criança foi violentada nessa casa”, acrescentou.
Confrontados pela polícia, os interrogados apresentaram uma nova versão, de que a criança estaria brincando com a mais velha, de 4 anos, quando caiu em uma escada da residência. “Fizemos a perícia no local, e a escada tinha um degrau bem baixo, não seria possível que a criança se lesionasse com tanta gravidade”.
A terceira narrativa era de que a criança teria caído quando eles invadiram a casa, já que eles precisavam pular o muro para entrar. “Mas é outra versão que também não condiz com as lesões”, disse Macedo. Sendo assim, as investigações foram concluídas, e o casal deve responder por tentativa de homicídio. “Essa criança sofreu violências e não há dúvidas de que esses dois são os responsáveis”, concluiu a delegada.
O casal não acusou uso de entorpecentes ou problemas psiquiátricos, mas o homem já tinha passagens por violência doméstica e roubo. Segundo a Polícia, não havia histórico de agressão às crianças no Conselho Tutelar, nem histórico de atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde). “Foi mesmo um caso pontual”, disse a delegada.
A criança mais velha chegou a passar por depoimento especial, mas não narrou nenhuma outra versão ou acusou agressões. O pai biológico da criança de 2 anos estava preso, e teve liberdade no dia do “acidente” envolvendo o filho, então não pode ser responsabilizado. Ele também foi ouvido pela polícia. O Conselho Tutelar já foi acionado.