Os pincéis na mesa, o espelho com palavras motivacionais, olhar atento, caderneta de anotação ao lado e o coração emocionado. Foi assim que uma adolescente de 16 anos, acolhida na Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (UAICA 2), realizou um curso de maquiagem organizado, especialmente, para ela.
A jovem, que está no acolhimento há quase dois meses, chegou junto com a filha recém-nascida. Desde então tem demonstrado o desejo de construir uma nova história, um novo caminho, com o apoio e os cuidados da equipe da UAICA 2.
Apaixonada pela área da beleza, a adolescente começou a despertar um novo olhar para o futuro após a chegada na unidade. Foi quando demonstrou interesse em aprender sobre maquiagem e solicitou à equipe, um curso que pudesse realizar o seu sonho e, assim, oferecer um futuro para sua filha.
“Diante desse desejo em fazer um curso na área da beleza, em especial, a maquiagem, nós buscamos uma profissional para atender o pedido dela. Quando conseguimos foi uma alegria. Ficamos todas emocionadas e entendemos a importância para ela”, disse a coordenadora da UAICA 2, Fernanda Moreira, que contou que a adolescente tem se mostrado disposta a aprender, respondendo de forma positiva todas as orientações e ensinamentos que a equipe técnica vem oferecendo.
“O nosso maior objetivo é mostrar para a acolhida o lado bom da vida, o outro lado que ela não conhecia, e que, mesmo diante de todas as dificuldades, ainda podemos acreditar no futuro. Nosso trabalho é fazer com que ela possa acreditar em seus sonhos, e mesmo tão nova, possa cuidar da filha de uma forma que ela não foi cuidada”, concluiu.
Com o bebê conforto ao lado e entre uma mamada e outra a adolescente recebeu todas as dicas e técnicas para aprender a fazer uma maquiagem profissional. A professora foi ensinando passo a passo todos os métodos. Na prática a menina foi aprendendo e mostrando as habilidades.
A advogada e maquiadora Larissa Ramos ofereceu o curso de forma voluntária para a adolescente e falou sobre a satisfação de contribuir para o desenvolvimento pessoal e emocional de pessoas que estão em situações de vulnerabilidade. “Eu sempre gostei de trabalhos voluntários, e através da coordenadora da unidade eu conheci a história da adolescente e isso mexeu muito comigo. Me coloquei à disposição de imediato. Para mim é gratificante saber que através do meu trabalho alguém está sendo ajudado. Espero muito que ela pratique e se desenvolva nessa área”, afirmou.
O curso durou pouco mais de uma hora e levou um sorriso para o rosto da adolescente, que se olhava no espelho como se estivesse vendo uma nova pessoa, agora com a autoestima renovada e a certeza de um recomeçar.
“Eu amei o curso, me realizei. Através desse curso despertei a certeza que vou ter uma vida digna com minha filha. Eu agradeço as tias que cuidam de mim no acolhimento, me ajudam, me ensinam. Quando cheguei eu era muito brava e agora sou outra pessoa”, ressaltou a adolescente, que pretende terminar os estudos e fazer faculdade de Direito.
Acolhimento
A menina, que havia interrompido os estudos no sétimo ano, voltou para a escola e tem se desenvolvido bem nas atividades escolares, compreendendo a importância dos estudos para ter uma oportunidade no futuro. No acolhimento, ela recebe o cuidado e orientação da equipe técnica formada pela assistente social, psicóloga e cuidadores.
A assistente social Loanda da Silva pontuou a evolução da adolescente acolhida e afirmou que nesse período ela aprendeu noções básicas e cotidianas até mesmo palavras cordiais. Outro aspecto da evolução está nos cuidados com a filha. “Mesmo não tendo maturidade e conhecimento para viver a maternidade, ela tem fortalecido o vínculo afetivo com a filha. Está disposta a seguir nossas orientações quanto aos cuidados, consultas médicas e até na administração das medicações”, disse a assistente social, que enfatizou que hoje a acolhida concilia a vida de estudante, adolescente e mãe.
Com 16 anos e o pré-natal tardio, os cuidados com a filha são supervisionados pela equipe técnica e cuidadores. Além disso, a menina é acompanhada diariamente pela psicóloga Ana Karla Lopes, que ponderou a evolução do comportamento e postura da adolescente desde que chegou na UAICA 2.
“Observamos o desenvolvimento como um todo, a mudança foi rápida e percebemos que aquela postura ríspida e firme do início, deu lugar ao respeito e cordialidade com todos. Hoje ela não vê mais o acolhimento como uma prisão e está fortalecendo vínculos e demonstrando afeto, correspondendo o carinho que ela recebe”, finalizou.