“Mato Grosso do Sul registrou 211 casos de suicídio, um número que não podemos ignorar. Desse total, nós tivemos 91 adultos, 80 jovens, 22 idosos e 20 adolescentes. E 10 sem informação de idade que decidiram tirar a sua própria vida. Neste ano, conforme dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, já aconteceram 127 suicídios, sendo que a maioria desses casos são de homens, de 85 anos; 22 de mulheres e 20 que não tiveram o gênero identificado. Quanto à faixa de idade, os adultos somam 54 desse tipo de ocorrência, enquanto 23 foram de jovens, 13 de idosos, 7 de adolescentes e 20 sem a idade informada. Esses números não são apenas estatísticas, é bom que fique claro isso, são vidas perdidas, famílias destruídas e comunidades que sofrem. Por isso estamos aqui, hoje, realizando esta palestra, com o intuito de conscientizar e prevenir o suicídio no nosso Estado”.
Os dados alarmantes foram apresentados pela deputada estadual Mara Caseiro (PSDB), na tarde desta segunda-feira (4), no plenário Deputado Júlio Maia, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, durante ação alusiva ao Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio, realizada pela Escola do Legislativo Senador Ramez Tebet.
A terceira vice presidente do Legislativo Estadual e autora da Lei 4.777/2015 que instituiu o Setembro Amarelo de Prevenção ao Suicídio no Estado de Mato Grosso do Sul, reforça a preocupação com o número de casos de suicídio em Mato Grosso do Sul. “Precisamos conscientizar e prevenir essa triste realidade. É importante criar um ambiente acolhedor para buscar ajuda e investir em programas educacionais que promovam a resiliência emocional. Os serviços de saúde mental devem ser acessíveis a todos. A prevenção do suicídio é responsabilidade de todos nós, podemos fazer a diferença ouvindo, compartilhando recursos e promovendo a conscientização. Vamos unir esforços e construir uma comunidade que valoriza a vida. A vida é preciosa e há esperança, mesmo nos momentos mais sombrios”, destacou a parlamentar e presidente da Escola do Legislativo Senador Ramez Tebet.
Para conscientizar e sensibilizar sobre o problema, tão complexo e com estatísticas alarmantes, o psicólogo Edilson dos Reis ministrou a palestra “Suicídio e seus paradigmas atuais: conhecer para prevenir”. O profissional, que também é teólogo, filósofo, especialista em Gerenciamento de Crise no Manejo Suicida, especialista em Negociação Policial Bope e pós-graduado em Saúde Mental, mostrou a necessidade de se conhecer os paradigmas do suicídio para assim tratar de forma preventiva. “Infelizmente é um tema de alta complexidade. Nós temos o estigma social na sociedade desses paradigmas que não pode falar e não pode divulgar, mas é um tema que precisamos falar sim”, salientou.
Edilson dos Reis reforça a importância de fazer um diagnóstico correto e também o apoio de família e amigos. “O comportamento suicida pode estar relacionado às doenças mentais, que são de alto impacto. Como você acha que fica uma pessoa que está passando por um sofrimento psíquico e não consegue falar da sua dor e da sua angústia? Ela não tem como falar porque não tem aonde falar, porque nós temos o estigma social ainda, das pessoas observarem alguém que está em sofrimento como um louco. E a consequência é essa: calado. Essa é a realidade hoje de pessoas que chegam nos consultórios. Crianças de 6, 7 e 8 anos de idade com duas e até três tentativas de suicídio e que os pais não perceberam a mudança de comportamento. A faixa etária que mais comete suicídio são idosos acima de 65 anos de idade. Mas o que chama atenção é a faixa etária dos 5 anos aos 25 anos de idade, que é a tendência maior de suicídio. O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 14 a 25 anos de idade no mundo. Mato Grosso do Sul é o quarto estado brasileiro com alta taxa de suicídio por cem mil habitantes”, alertou o palestrante.
O palestrante enfatiza que o suicídio pode ser evitado. “Um evento como esse traz a oportunidade de debatermos, de uma forma acadêmica e científica, de que o suicídio pode sim ser evitado”, citou. Ele ainda explicou a respeito do tabu existente em torno das doenças mentais, como o preconceito institucional, social, familiar e religioso. “Isso tudo em relação ao sofrimento psíquico comprometem a prevenção. Além do estigma e do adoecimento mental, o sujeito doente têm medo de ser discriminado pelos próprios colegas, familiares, o que dificulta a busca por orientação profissional e apoio adequado”, exemplificou.
Acerca do acolhimento durante um tratamento, o profisisonal aponta: “É preciso mostrar que entendemos o sofrimento que a pessoa está passando e que estamos disponíveis para auxiliar no que for possível. Sempre encerro a minha consulta com duas frases: Eu me importo com você!; e Nós passaremos por isso, pode contar comigo!. Não temos resposta para tudo mas temos o acolhimento para todos. E é o acolhimento que falta, pois é a primeira porta de entrada para iniciar um excelente tratamento”, evidenciou.
Com esse debate proposto pela Assembleia Legislativa, há a importância da preocupação com todos. “Atuamos nessa área há 34 anos e precisamos ressaltar que a imprensa de Mato Grosso do Sul, no modo geral, é uma das poucas do Brasil que enfatiza esse tema com mais efetividade, não somente no mês de setembro, mas todos os meses do ano”, destacou. “É necessário buscar ajuda, aderir ao tratamento e ter consciência que uma dor não compartilhada dói mais”, finalizou o psicólogo.
Considerações
A palestra para conscientizar e sensibilizar sobre o problema do suicídio foi aberta ao público e contou com a participação de profissionais da área da Sáude, representantes do setor de Psicologia e Psiquiatria e estudantes. Após a solenidade de abertura foi exibido um vídeo elaborado pela equipe de comunicação institucional da TV ALEMS com o tema “A Vida é Superação”.
Além da deputada estadual Mara Caseiro e do palestrante major capelão e psicólogo Edilson dos Reis, compuseram a mesa: o deputado estadual Professor Rinaldo Modesto (Podemos), o secretário executivo da Secretaria Executiva de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (Sead), representando o Governo do Estado, Ben-Hur Ferreira, o deputado federal Beto Pereira (PSDB), comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, coronel Frederico Reis Pouso Salas, e o vereador de Campo Grande, Silvio Pitu.
O deputado federal Beto Pereira lembrou a importância das instituições para a sociedade, enalteceu os alunos das escolas presentes, bem como a iniciativa da Assembleia Legislativa. “A conscientização é a melhor alternativa para que nós tentarmos reduzir drasticamente o número de incidentes com o suicídio. Nós entendemos que essa iniciativa da Assembleia Legislativa é importante para divulgar a ajuda e iniciativas, principalmente para nós reduzirmos, se não extinguirmos, essa mazela da nossa sociedade”, apontou o deputado federal.
O comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, coronel Frederico Reis Pouso Salas, reforçou o trabalho da corporação por meio do telefone 193, onde os militares conseguem dar um encaminhamento e resolver da melhor forma possível para que não seja cometido o suicídio. “Agradeço a ALEMS e o nosso palestrante, nosso bombeiro militar de essência, nosso capelão que por muitos anos, aconselhou espiritualmente os nossos militares da corporação e que hoje está doando a parte do seu tempo em prol de uma sociedade melhor, não só no Mato Grosso do Sul, mas como todo território nacional. A corporação tem como um dos pilares a proteção da sociedade e esse tema, e esse mês Setembro Amarelo faz com que a gente reforce, não só internamente, mas como a sociedade como um todo desse tema. As instituições do Estado estão aqui para ajudá-los. Quem necessitar de ajuda procure o Estado, a corporação, os centros de referências da prefeituras e do Estado, porque nós somos por você”, informou o comandante.
“Quero dizer como é importante essa preocupação com os temas que poucas pessoas têm acessibilidade e que poucas pessoas querem enfrentar. Parabenizo essa ação que usa as pessoas do bem para trazer um debate que salva vidas, salva famílias e que muda a história”, colocou Silvio Pitu.
Para o representante do governo, Ben-Hur Ferreira, a Escola do Legislativo traz esclarecimentos e presta um grande serviço com a realização deste debate. “Parabenizo a sensibilidade do poder legislativo. Ás vezes ainda tratamos com preconceito a saúde mental e não imaginamos a dor que a pessoa sofre. Palestras como essa de hoje previnem, orientam e mais, exemplificam para que os outros poderes sigam os passos do Legislativo e possam, cada um no seu âmbito e competência, realizar debate com essa profundidade”, pontuou.
Em suas palavras, o deputado estadual Professor Rinaldo Modesto, parabenizou o debate de um assunto que permeia todas as classes sociais, filosóficas e econômicas e ambém agradeceu os estudantes presentes. “Muito me alegra poder ver tantos garotos e garotas adolescentes aqui porque nós temos visto o aumento grandioso em relação a suicídio de pré-adolescentes, principalmente no período da pandemia que aumentou significativamente. Precisamos nos colocar no lugar do outro e estender a mão e não julgá-lo. Parabenizo todos os agentes deste estado que tem se colocado, com espírito altruísta, à disposição para ouvir a dor do outro. Então é dessa forma que a gente vai construir uma sociedade mais fraterna mais justa e acima de tudo mais solidária”, ressaltou o parlamentar.