Historicamente, Mato Grosso do Sul ficou conhecido como terra da soja e do boi. Porém, de uma década para cá, com a chegada de grandes indústrias de celulose, o eucalipto invadiu boa parte destas terras e hoje é melhor negócio que os “concorrentes” tradicionais, principalmente por conta da queda nos preços dos grãos e da arroba do boi.
Pelo menos é isso que afirma um dos primeiros plantadores de eucaliptos no Estado, Francisco Maia, que há 18 anos destinou mil hectares das propriedades da família ao plantio de florestas e desde então já fez duas “safras”. Do plantio ao corte são necessários em torno de sete anos.
Em 2010, Mato Grosso do Sul tinha em torno de 310 mil hectares de eucaliptos. Hoje, está prestes a atingir 1,5 milhão de hectares e a previsão é de que alcance dois milhões antes do final desta década.
Prova disso é que a Suzano de Ribas do Rio Pardo continua ampliando suas áreas de plantio, a chilena Arauco vai precisar ainda 300 mil hectares para a fábrica de Inocência. Além disso, a Bracel, da região de Bauru (SP), está investindo pesado no plantio aqui no Estado.
Além, disso, tem a empresa Paracel, que está se instalando em Concepcion, no Paraguai, mas tem escritório em Campo Grande e está comprando por aqui parte de sua madeira para iniciar a operação no país vizinho.
Boa parte destas terras, que historicamente tiveram fama de serem de baixíssima qualidade para a agricultura e até a pecuária, estão sendo arrendadas por estas gigantes da celulose. E, segundo Francisco Maia, os proprietários recebem, em média, R$ 140,00 por mês por hectare arrendado.
Se esta mesma terra fosse arrendada para criação de gado, o proprietário receberia em torno de R$ 45,00 por mês pela cotação atual da arroba, afirma Chico Maia, plantador de eucaliptos que já foi presidente da associação dos criadores de gado do Estado, a Acrissul.
Embora ainda continue com a pecuária, já que foi o primeiro produtor do Estado a aliar o plantio de eucaliptos e criação de gado ao mesmo tempo na mesma área, ele está convicto de que o plantio de florestas rende mais até do que a soja e o milho.
Por hectare, um proprietário recebe uma média de 15 sacas de soja por ano pelo arrendamento. Pela cotação atual de R$ 120,00, isso garante renda de R$ 150,00 por hectare por mês. Embora esta renda seja superior à do eucalipto, é necessário observar que a terra fértil usada para a soja custa entre R$ 80 mil a R$ 120 mil o hectare, enquanto que as terras dos eucaliptos, cujos preços quadruplicaram na última década, custam de R$ 25 a R$ 35 mil o hectare.
Então, se levar em consideração o valor do capital destinado ao arrendamento, o retorno financeiro do proprietário das terras fracas que arrenda para plantio de eucaliptos chega a ser mais que o dobro daquele que arrenda terras boas para o plantio de grãos.
E o “ex-pecuarista” Chico Maia, que é plantador independente e vende sua madeira para quem paga mais, faz outra conta. O metro cúbico do eucalipto está na casa dos R$ 130,00. Em sete anos, o hectare rende 280 metros, em média. Isso garante faturamento bruto de R$ 5.200,00 por ano. Descontando os custos, de R$ 1,7 mil, sobram R$ 3,5 mil.
Com a queda de 35% e 45% no preço da soja e do milho no último ano, respectivamente, dificilmente um agricultor consegue superávit de R$ 3,5 mil por hectare ao ano, já que os custos da produção não recuaram, os juros agrícolas estão na casa dos 18% ao ano e o preço dos maquinários disparou, afirma Chico Maia. E, mesmo que consiga, ressalta ele, precisa levar em consideração o tamanho do capital que precisa ter para conseguir produzir soja.
E por falar em queda de preços, Chico Maia aponta outra vantagem para o silvicultor, que, segundo ele, é bem menos vulnerável que o pecuarista ou o agricultor às oscilações do mercado. “Se a soja tá madura, precisa colher e vender. Se o boi tá gordo, tem de abater, caso contrário dá prejuízo. No caso do eucalipto, se o preço tá ruim, deixo ele crescendo mais um ano ou dois e vendo só quando o preço melhora”.
OURO VERDE
Não é só para os proprietário rurais que o eucalipto virou uma espécie de “ouro verde”, já que veio “para corrigir e trazer riqueza para uma região de terras pobres”, diz Chico Maia. Para os cofres públicos, ele também está sendo fundamental. O setor é o que mais gera impostos hoje no Estado, garante ele.
Na pauta da exportação está em primeiro lugar no faturamento há algum tempo, sendo destronado somente agora no período da safra de soja. Por mês, as exportações rendem ao Estado uma média de 130 milhões de dólares, o que representa em torno de 20% de tudo aquilo que MS exporta.
Uma das principais explicações para este repentino e gigantesco interesse mundial nas terras fracas da região nordeste e leste de Mato Grosso do Sul é o fechamento de centenas de pequenas e médias fábricas de celulose em todo o mundo pelo fato de serem altamente poluidoras, segundo Chico Maia.
Com as novas tecnologias, porém, garante Maia, a realidade agora é outra e estas grandes empresas que estão operando aqui estão conseguindo superar esta imagem de poluidoras. Além disso, estas florestas são superavitárias na troca de carbono entre meio ambiente e produção.
“A gente já observou que nós somos carbono negativo. Então, a nossa atividade hoje é uma indústria que gera carbono e consome muito carbono também. O que ela captura no mercado do meio ambiente, a área de floresta está conseguindo captar”, afirmou Miguel Caldini, Gerente de Negócios Florestais da Suzano, em reportagem do Correio do Estado publicada em setembro do ano passado.
Com cerca de 5 milhões de toneladas por ano, Mato Grosso do Sul é hoje o segundo maior produtor de celulose do País e com isso colocou o Brasil no segundo lugar dos produtores de celulose do mundo.
O primeiro lugar pertence aos Estados Unidos, com 51 milhões de toneladas. Depois aparece o Brasil, com 21 milhões de toneladas; o Canadá, com 15,4 milhões de toneladas; a China, com 14,9 milhões; e Suécia, com 12 milhões de toneladas.
O Brasil, porém, é o maior exportador do mundo, com 16 milhões de toneladas, segundo o Canadá, com cerca de 9 milhões de toneladas.