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sábado, novembro 23, 2024
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Juros altos reduzem vendas e retraem investimentos no comércio da Capital

A alta de juros afeta também os comerciantes, gerando retração nos investimentos e aumento de preços, conforme especialistas.

Com a taxa básica de juros atualmente em 13,75% ao ano e sem nenhuma perspectiva de redução significativa, o setor varejista ainda deve encarar um período de instabilidade, com impactos como redução nas vendas.

“As taxas de juros altas aumentam o custo do dinheiro, impactando os preços finais dos produtos, assim, a oferta dos produtos e os investimentos das empresas diminuem. Com essa redução da oferta, os preços aumentam e as vendas no comércio caem”, explica o economista Michel Constantino.

Com recursos de instituições financeiras, comerciantes programam manutenção de estoque ou capital de giro. Com a alta dos juros, esse acaba sendo ainda mais um peso no bolso do consumidor.

“Cerca de 90% dos comerciantes usam dinheiro de instituições financeiras para capital de giro e investimentos em estoque; com os juros mais altos, esses recursos aumentam e impactam o preço final dos produtos reduzindo a demanda”, acrescenta Constantino.

O economista Eugênio Pavão ressalta que os juros altos também afetam a geração de empregos e o pagamento de produtos.

“Enquanto [a Selic] estiver alta, ela afeta o investimento em geral, ou seja, os empresários deixam de tomar recursos financeiros, gerando poucos empregos, tributos e queda nas vendas, podendo levar o País a uma recessão. Para os varejistas, a alta de juros afeta as negociações para o pagamento dos produtos. Muitas vezes, os pagamentos são feitos com empréstimos e financiamentos, que envolvem o pagamento de juros. As vendas também são feitas para recebimentos em médio prazo, fazendo com que as necessidades financeiras sejam cobertas por captação de recursos com juros”, detalha.

Além da alta na taxa de juros, outros fatores também influenciam na cautela do empresário diante de compromissos financeiros, como o próprio momento político, com uma recente troca de gestão.

“Uma época de mudança de gestão, como aconteceu neste ano, sempre deixa o empresário preocupado. Ele se programa, mas ninguém quer juros altos. Ele acaba precisando recalcular todo o investimento. Então, isso retrai e limita o desenvolvimento de projetos como um todo. E no fim, quem acaba pagando a conta é sempre o consumidor”, analisa o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), Renato Paniago.

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas, Adelaido Vila, também reforça que os juros altos resultam no adiamento de possíveis promoções, uma vez que os comerciantes não conseguem diminuir os preços dos produtos.

“O comerciante também deixa de fazer promoções, pois, quando ele for refazer o estoque dele, ele não consegue cobrir os gastos com o valor da promoção, por exemplo. Além disso, o consumidor também evita comprar no crédito, então a alta dos juros causa uma repercussão em toda a cadeia e vai deixando rastros”, opina.

Melhora
Ainda de acordo com os economistas, há uma expectativa de melhora, mesmo que tímida, para o segundo semestre deste ano, e também um anseio pela reforma fiscal.

“O segundo semestre deve ser mais tranquilo. Atualmente, também vivemos muitas consequências da guerra na Ucrânia e da inflação, além da instabilidade da troca de governos e uma mudança na cultura econômica. Muita gente ficou receosa e tirou o pé do freio. Por isso também é importante a reforma fiscal, para trazer mais estabilidade nesse sentido”, acrescenta Vila.

“A taxa Selic é a base para todas as taxas de juros da economia e, tecnicamente, deve começar a cair no segundo semestre. Após as reduções, [a taxa] começa a impactar menos os preços e o crescimento econômico. É importante destacar que o governo pode tentar reduzir na ‘canetada’, como fez com os juros para os aposentados, mas o efeito pode ser o contrário, como o caso dos bancos que pararam de emprestar o recurso”, analisa Constantino.

“É complicado definir um período específico, porque é uma questão bastante complexa. Dependemos também do comportamento externo, das commodities, por exemplo. São diversos fatores que influenciam. A expectativa é grande para a reforma tributária e, com ela, a desburocratização”, reforça Paniago.

Mercado prevê manutenção da Selic
O Banco Central vem sofrendo grande pressão do governo e de alguns setores da economia para começar a reduzir a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano.

Mas, pelo menos para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que teve início nesta terça-feira (21) e se encerra hoje (22), a taxa deve permanecer como está.

Essa projeção foi unânime entre as 45 instituições. Além disso, a maior parte delas (24) projeta o início dos cortes no segundo semestre; seis ainda neste primeiro semestre; e outras 15 só em 2024.

A mediana de todas as projeções aponta que a Selic deve terminar este ano em 12,5%, chegando a 10,25% no fim de 2024 e a 9% em 2025.

Carlos Lopes, economista do Banco BV, projeta o início dos cortes da Selic no terceiro trimestre, levando os juros a 12% no fim do ano. Para ele, o cenário de inflação atual não permite que o Copom comece – ou mesmo sinalize – reduções nas duas próximas reuniões.

“Os núcleos [de inflação] seguem altos, com destaque para a inflação de serviços. Apesar da desaceleração do crédito, o mercado de trabalho ainda aquecido e o crescimento da renda têm ajudado a sustentar esses preços”, diz. Para Lopes, a perspectiva inflacionária poderia inclusive postergar o início dos cortes, mas a incerteza com o sistema bancário no exterior “equilibrou” esse risco.

Ele pondera que a crise dos bancos ainda está no início e que seria arriscado o BC alterar sua estratégia em cima de algo que não se caracterizou, por enquanto, como um problema para a atividade econômica. O tema, porém, deve ser reconhecido nas próximas comunicações da autarquia, avalia Lopes.

Para o economista, a proposta de nova âncora fiscal tampouco deve trazer conforto para o BC.

“Independentemente do desenho, a sinalização do governo é de crescimento real das despesas, ao menos no curto prazo”, diz Lopes, que ressalta que o arcabouço precisará ainda ser “digerido” no Congresso, o que torna incerto o que efetivamente será aprovado.

“Atrasado”
O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, manteve a expectativa de redução da Selic para 13%, a partir do quarto trimestre de 2023.

Apesar do aperto nas condições de crédito com a crise da Americanas e da incerteza em torno do sistema bancário internacional, ele argumenta que não há evidências de “credit crunch” (a diminuição drástica na oferta de crédito) no Brasil.

“Vejo um encarecimento natural do crédito para pessoa jurídica e um aumento do spread para alguns patamares altos, mas, sinceramente, acho que é natural e esperado que o crédito responda à subida da Selic, foi até um pouco atrasado”, diz.

O economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, espera o início dos cortes da Selic só em janeiro de 2024. “A inflação não está cedendo, o PIB está meio parado e as expectativas estão piorando. Não se veem motivos para uma queda dos juros ao longo deste ano”, argumenta.

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