O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, prometeu, durante entrevista para a imprensa, que encerra ainda nesta quarta-feira (19), o julgamento do empresário campo-grandense Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, pela execução do acadêmico de Direito, Matheus Coutinho Xavier, em abril do ano passado.
Na noite de ontem (18), durante depoimento no júri popular, Jamilzinho, suposto comandante de uma “milícia armada”, disse que estava dopado quando proferiu a frase para sua ex-mulher, dizendo que iria promover “a maior matança da história do Mato Grosso do Sul”, que alcançaria “do picolezeiro ao governador”.
Ele disse ainda que no período em que fez essas citações à ex-mulher estava passando por muitos problemas e fazia uso do medicamento Alprazolan (Frontal). “Eu fazia um uso excessivo deste remédio, tanto que eu carregava na carteira. Esse remédio tinha um efeito rápido, me deixava tranquilo e calmo, mas depois eu passei a tomar ele com cerveja”, disse.
Depois de alegar que fez a ameaça de promoveria a “maior matança de Mato Grosso do Sul” e que não pouparia do picolezeiro ao governador porque teria tomado “Frontal com cerveja”, Jamilzinho ainda tentou justificar a frase alegando que fez tudo isso porque teve problemas conjugais, levou “vários golpes” financeiros na praça por “não saber dizer não” e ainda desenvolveu depressão por ter passado por cirurgia bariátrica.
A conversa entre Jamilzinho e a ex-mulher estava nas interceptações feitas pela Polícia Civil no bojo da investigação, depois que ele teve seu telefone celular apreendido na Operação Omertà. A frase acabou simbolizando a violência com que o grupo supostamente comandado por Jamilzinho e seu pai, Jamil Name, que faleceu vítima de Covid-19 quando estava no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
O depoimento de Jamilzinho foi o último do segundo dia de júri e avançou até o início da noite. Bem afinado com a estratégia desenvolvida por sua defesa, a de levantar a suspeita que a execução de Matheus Coutinho Xavier foi feita por outras grandes organizações criminosas (como a comandada pelo ex-major PM Sérgio Roberto de Carvalho, o “Major Carvalho”, ou mesmo pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), uma vez que um dos acusados de participar da execução por engano do garoto, Juanil Miranda Lima, está desaparecido desde que o grupo soube que a polícia estava em seu encalço.
Jamilzinho derrapou em duas perguntas, formuladas pelo magistrado Aluizio Pereira dos Santos e também em uma questão formulada pela mãe de Matheus, a advogada Carla Coutinho. Na primeira derrapada, Jamilzinho ia bem na estratégia, ao afirmar que o dono de fato da casa em que um arsenal (em que havia fuzis 7.62 mm e AK-47) era seu pai Jamil Name. Também disse que nunca tinha pisado na casa, e que entregou a chave para um piscineiro e para Marcelo Rios (ex-guarda municipal acusado de envolvimento no crime).
Mas o juiz insistiu, queria saber se, mesmo não tendo sido o proprietário do imóvel, se ele tinha domínio sobre ele. Jamilzinho então tergiversou novamente, voltou a dizer que a casa era de seu pai, que nunca havia pisado no local, mas que pretendia vendê-la. Foi então que o juiz o interpelou para responder com mais clareza: “mas quem põe uma casa à venda, e dá a chave para alguém, é por que tem domínio sobre ela, não é?”.
Foi então que, do banco dos réus, Jamilzinho despejou as declarações ao magistrado: “1 – Eu nunca fui nessa casa; 2 – Eu não tenho grupo armado de assalto a banco, de facção criminosa, nem de tráfico, para ter qualquer tipo de vínculo, ou qualquer tipo de relação com aquilo que foi apreendido; 3 – Se caso fosse pertences meus, como eles dizem que é uma organização muito bem estruturada. Eu vou deixar dentro de uma propriedade minha? Seria um contrassenso muito grande. Não tenho qualquer relação”, sustentou.
A segunda derrapada de Jamilzinho ocorreu quando a mãe do rapaz executado por engano (a tese da acusação é de que o pai de Matheus, o ex-capitão PM Paulo Roberto Xavier, o “PX”, era o verdadeiro alvo) formulou uma pergunta que desmontou a tese. “Qual era o valor da dívida que o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho tinha com você (e sua família)?”.
Jamilzinho tentou alegar questão de cunho pessoal. Na sequência, a advogada e mãe da vítima, sustentou que não se tratava de algo de ordem pessoal, mas de algo pertinente, pois a origem do plano para matar Paulo Roberto Xavier , a disputa entre Antônio Coelho e a Família Name por uma fazenda que já pertencia à seita do Reverendo Moon, está diretamente ligada à execução que resultou na morte de Matheus, filho dela e de Paulo (atualmente ex-marido dela).
Após muita insistência, Jamilzinho respondeu, falou que a dívida era de R$ 3 milhões. E depois de ter feito perguntas à advogada antes de soltar o valor (ela disse que não estava lá para responder às perguntas), Jamilzinho falou de algo que ele tem, e que a advogada está lá justamente por ser a causa do julgamento: ter filhos.
“Estou custodiado em Mossoró (RN – no presídio federal). Meus filhos não andam de carro blindado. Tenho condições para isso. A vida dos meus filhos vale mais do que qualquer dinheiro”, disse Jamilzinho à advogada e mãe do garoto que ele é acusado de ser o mandante do crime.
A disputa por uma das fazendas que no início da década pertenceram à Associação das Famílias pela Unificação da Paz Mundial, a seita do coreano Revendo Moon (morto em 2012) é um dos motivos do assassinato de Matheus Coutinho Xavier, conforme indicam o Ministério Público e a Polícia Civil.
Paulo Roberto Teixeira Xavier, verdadeiro alvo dos pistoleiros que executaram o filho dele, o estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, põe a disputa entre a empresa da família Name e o advogado paulista Antônio Augusto de Souza Coelho, pela Fazenda Figueira – que já pertenceu à seita coreana – como um dos fatos que estava gerando grande tensão entre os dois lados.
Xavier trabalhava para o grupo dos Name, mas também tinha muita proximidade com Antônio Augusto de Souza Coelho. Um suposto jogo duplo de Xavier, teria sido a origem do plano para matá-lo, que acabou resultando na morte do rapaz.
Os depoimentos dos três acusados na execução de Matheus: Jamil Name Filho (mandante), Marcelo Rios (operacionalizou o crime) e Vladenilson Olmedo (operacionalizou o crime) foram tomados nesta terça-feira (18). Para esta quarta-feira (19) estão previstos os debates. Em seguida, o juri deve se reunir para proferir a sentença contra os réus. A previsão é que o julgamento termine entre a tarde desta quarta-feira (19) e a manhã de quinta-feira (20).