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sábado, novembro 16, 2024
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Jamilzinho reclama do fato de ter sido abandonado pelos poderosos

Ao concluir seu depoimento nesta quarta-feira (18), o réu Jamil Name Filho queixou-se do fato de ter sido esquecido pelas autoridades de Mato Grosso do Sul após ser preso, em setembro de 2019. “O que é curioso, não quero fazer acusação nenhuma, as maiores autoridades do Estado, nenhuma apareceu, ninguém”, afirmou.

A declaração foi dada em meio às afirmações de que seu pai, Jamil Name, “foi morto” ao ser colocado numa das celas do presídio federal de Mossoró (RN) em isolamento total.

Antes disso, Jamilzinho, como é conhecido, se vangloriou de que sua casa precisava de seguranças porque era frequentada durante décadas por juízes, desembargadores, deputados, senadores, vereadores e até governadores.

Então, ao reclamar de ter sido esquecido na cadeia, onde está há quase quatro anos, o homem que está no banco dos réus acusado de ter sido o mandante do atentado que resultou na morte do estudante Matheus Xavier, em abril de 2019, se referia exatamente às pessoas que costumavam frequentar a residência do seu pai e sua, em um condomínio de alto padrão na região do bairro Bela Vista.

Ao ser questionado pela mãe de Matheus, a advogada Cristiane de Almeida Coutinho, que é assistente de acusação, sobre a quantidade de guardas municipais que costumavam prestar serviços nas casas da família, afirmou que não sabia com exatidão, mas disse que eram em torno de meia dúzia.

Porém, fez questão de afirmar várias vezes que ninguém trabalhava armado e que a única arma encontrada em sua casa pela operação Omertá é uma pistola 380 que está registrada e foi devolvida pela polícia.

E apesar de nenhum destes seguranças trabalhar armado, deixou claro que na casa do pai, que morreu em junho de 2021, aos 82 anos, funcionava uma espécie de banco. Em duas oportunidades declarou que o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho saiu de lá com 600 mil dólares, que foram repassados em datas diferentes, cada vez 300 mil.

Gardados em casa sem nenhum segurança armado, os cerca de 3 milhões de reais, conforme Jamilzinho, foram entregues como parte do pagamento da compra da fazenda Figueira, localizada em Jardim.

Esse imóvel teria sido o pivô, segundo a denúncia, para que a família Name encomendasse o assassinato do ex-capitão da PM Paulo Xavier. Porém, os pistoleiros erraram e mataram seu filho, que manobrava a caminhonete do pai na frente de casa, no Jardim Bela Vista.

TRIBUNAL PARALELO
Além de banco e sede paralela de todos os poderes, já que juízes, desembargadores, senadores, deputados e governadores costumavam frequentar a casa, no imóvel também funcionava uma espécie de tribunal onde a última palavra era da família Name.

Prova disso é que ao ficar frente-a-frente com a mãe do jovem morto, Jamilzinho revelou que em certa oportunidade foi procurado por seu ex-marido, Paulo Teixeira, para que intermediasse a disputa pela posse de uma chácara de 14 hectares “de altíssimo valor” nas imediações da Universidade Católica Dom Bosco. Segundo Jamilzinho, 25% desse imóvel pertence a Paulo Xavier e o restante ao advogado Antônio Augusto.

De acordo com o depoimento, esta chácara estaria sendo ocupada pelo ex-vereador Alceu Bueno. Paulo Xavier, então, teria pedido ajuda para que Jamilzinho ajudasse a retirá-lo. Diante do pedido, o réu revelou que não tinha intimidade com Alceu, mas que era próximo do vereador Carlão (Carlos Borges, atual presidente da Câmara de Vereadores da Capital), que por sua vez seria amigo de Alceu Bueno.

E, como se fosse juiz, convocou Carlão e Alceu Bueno a comparecerem em sua residência para tentar acabar com a disputa. Aos ser questionado, Alceu Bueno teria confirmado que realmente estava no imóvel e de imediato teria dito “tudo bem Jamil, eu não quero problema”, deixando claro que sabia que se não seguisse a determinação deste “juiz” enfrentaria graves problemas

Na sequência, Jamilzinho informou aos jurados e à mãe de Matheus que dias depois dessa “audiência judicial paralela” em que foi decretada a “ordem de despejo” tomou conhecimento de que Paulo Teixeira teria entrado na chácara com várias pessoas e “enxotou” Alceu Bueno de lá.

O mais grave disso tudo é que o ex-vereador Alceu Bueno foi morto em setembro de 2016 e conforme a investigação da época, foi vítima de latrocínio. Depois de ser morto, o corpo foi jogado num terreno baldio na região do Parque dos Poderes e parcialmente carbonizado. Seu carro, uma Land Rover, levado para o Paraguai.

Dois homens e uma mulher foram presos e condenados por latrocínio, mas a família do ex-vereador nunca acreditou na versão de latrocínio, já que ele não andava com dinheiro e seu veículo acabou sendo queimado pelos próprios assassinos, que nem mesmo tentaram vendê-lo no país vizinho. Os familiares sempre insistiram na tese de crime encomendado.

No depoimento, Jamilzinho também revelou que abandonou o curso de Direito ainda no primeiro ano de faculdade, pois o que gosta mesmo é de “fazer negócios”. E, como bom negociador, revelou ao juiz que comprou uma casa e a colocou à venda no bairro Monte Líbano sem nunca “ter posto os pés lá e nem nunca ter passado por perto”.

Foi nesta casa que a polícia encontrou 22 armas. Mas, Marcelo Rios, um dos réus no julgamento, assumiu que foi o responsável pelo depósito do armamento no local e que o patrão não tinha conhecimento disso.

FIM DO JULGAMENTO
A previsão do juiz Aluízio Pereira é de que o julgamento de Jamilzinho, Marcelo Rios e Vlademilson Olmedo acabe por volta das 21 horas desta quarta-feira, um dia antes do previsto, já que ontem a defesa abriu mão de ouvir praticamente todas as testemunhas de defesa.

Defesa e acusação terão hoje nove horas para tentar convencer os jurados de que os réus são inocentes ou culpados pela morte de Matheus Xavier. A palavra final será dada por cinco homens e duas mulheres, que desde segunda-feira estão isolados e hoje à noite dirão se os campo-grandenses condenam ou não os integrantes da suposta milícia.

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