Em uma semana, mais de 2,7 mil cabeças de gado morreram em decorrência do frio em Mato Grosso do Sul. Fatalidades como essa levantam o questionamento sobre a possibilidade de reduzir os prejuízos pelo consumo da carne. Contudo, os animais mortos pelo frio são totalmente impróprios para consumo, tanto de humanos quanto de outros animais.
Conforme o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), os animais mortos na propriedade rural não podem ser destinados ao consumo. As carcaças devem ser queimadas e enterradas fora das áreas utilizadas para o manejo da exploração pecuária e afastadas das demais instalações da propriedade.
O médico veterinário da Embrapa Gado e Corte (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Luiz Orcírio, explica que o consumo desses animais não é recomendado devido à contaminação. Ao morrerem, os animais podem ficar horas expostos no campo, longe de condições sanitárias ideais e, portanto, sujeitos a doenças.
“Os animais para serem consumidos devem ser sacrificados e abatidos em uma instalação frigorífica com inspeção sanitária. Nesse local é observada toda a condição de saúde do animal para não haver risco de transmissão de doenças. A perda é lamentável, mas os riscos em consumir essa carne são muito grandes”, destacou.
Para evitar danos ambientais, o descarte dos animais deve seguir todas as normas sanitárias e pode ser feito de duas formas: enterrados em uma vala profunda ou incinerados e posteriormente enterrados.
“As carcaças dos animais devem ser enterradas em uma vala profunda de aproximadamente 2 metros ou incineradas e depois enterradas. É importante evitar que sejam próximas a nascentes ou reservas de água para não contaminar o lençol freático”, explicou Orcírio.
Mais de 2,7 mil animais mortos em sete dias
Com a queda nas temperaturas, Mato Grosso do Sul registrou entre os dias 12 a 19 de junho 2.725 mortes de gado por hipotermia. Conforme a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), os casos foram notificados por produtores rurais desde a última quinta-feira (15).
Em MS, os termômetros bateram a casa dos 3°C e a sensação térmica chegou a 0°C. Segundo a Iagro, a morte dos animais está diretamente relacionada aos fatores climáticos, visto que os bois não conseguem resistir às baixas temperaturas.
O Pantanal sul-mato-grossense foi a região que registrou maiores perdas. Também foram notificadas mortes em Campo Grande, Aquidauana, Miranda e Nova Andradina.
Dados da Embrapa apontam que há pelo menos 15 anos o Estado registra ocorrências de perda de gado durante o frio. Em média são registrados dois surtos por ano, envolvendo um número considerável de animais mortos por hipotermia.
Os dois maiores surtos registrados em Mato Grosso do Sul foram de 10 mil animais no ano de 2000 e de três mil em 2010.
Cuidados durante o frio
Para evitar maiores perdas é fundamental que os produtores fiquem atentos a possíveis mortalidades nas propriedades. A Iagro alerta que propriedades que tiverem ocorrência de mortes acima dos parâmetros esperados devem procurar a Agência mais próxima e notificar as autoridades competentes.
O veterinário Luiz Orcírio destaca que alguns cuidados específicos podem fazer toda a diferença no bem-estar animal e evitar mortes por hipotermia.
“Levar os animais para ambientes protegidos do frio e do vento ou próximos a reservas. Investir em uma alimentação melhor, porque no frio esses animais demandam mais energia para manter a temperatura e isso leva à mortalidade por hipotermia. Uma suplementação para fortalecer o sistema imunológico também é ideal”, enfatizou.
Para o especialista, outro fator que contribui para o aumento das mortes é a falta de arborização adequada nas propriedades rurais.
“Hoje as propriedades estão muito descampadas, perdeu muito a vegetação arbórea. Por isso é importante que a longo prazo haja uma recomposição florestal por meio da formação de capões e árvores que possam proteger os animais dos ventos”, ressaltou.
Em Itaquiraí, município distante 408 quilômetros de Campo Grande, um fazendeiro criou uma fogueira para proteger os animais do frio. Luiz Orcírio ressalta que é imprescindível, que os produtores se atentem as condições meteorológicas e se previnam para evitar prejuízos.