O empresário Adir Paulino Fernandes, 65 anos, que foi preso com arma de fogo sem registro em chácara localizada em Terenos (MS), pode levar o MPE (Ministério Público Estadual) a desenredar uma fraude milionária de R$ 300 milhões construída a partir licitações promovidas pela Prefeitura de Campo Grande na gestão do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD).
O esquema começou a ruir na quinta-feira (15), logo pela manhã, com a deflagração da “Operação Cascalhos de Areia”, para cumprir 19 mandados de busca e apreensão. Uma das ordens judiciais atingiu o empresário André Luís dos Santos, o conhecido “Patrola”, dono de empreiteira e amigo de Marquinhos Trad.
Suspeitas do MPE indicam que Patrola vencia as concorrências para cuidar da manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinários, com a empresa ALS e outras empresas que seriam tocadas por “laranjas”, ou seja, alguém que empresta o nome para esconder a origem ou destinatário de recurso ilegal.
Um desses “laranjas” seria Adir Paulino Fernandes, que é dono da JR Comércio e Serviços, empresa criada em 2011, porém, em depoimento, disse que era motorista autônomo e que ganhava a vida negociando o que produzia no sítio da família, especificamente, queijos.
Quanto a arma, o revólver de calibre 32, ele disse que seria de seu pai, Saul Fernandes, que morreu em 2019, já aos 92 anos de idade. Ao delegado de Polícia Civil Antenor Batista da Silva Júnior, o empresário disse que seus ganhos com a venda de queijos e outras mercadorias que produzia na chácara davam-lhe uma remuneração mensal de R$ 2,5 mil.
O delegado, depois de tomar as declarações do investigado, fixou uma fiança no valor de R$ 1,3 mil, que foi paga e culminou com a liberação de Adir Paulino Fernandes. Porém, o depoimento deve determinar rumos da investigação sobre o esquema das empreiteiras que arrecadaram milhões com a Prefeitura de Campo Grande.
Contratos firmados pela JR Comércio de Serviços e a Prefeitura celebrados de 2017 com o cronograma para expirar em 2024, ano que vem indicam que a empresa de Adir Paulino Fernandes, o vendedor de queijo com rendimento de R$ 2,5 mil mensais, movimenta negócios que giram em torno R$ 224,5 milhões. Há negócios de importâncias vultosas e encurtadas, como a que alcançou R$ 219,7 milhões, R$ 3,9 milhões, R$ 862 mil e R$ 179 mil.
O dinheiro entra na conta da empresa contratada pelo município para locar máquinas pesadas, caminhões, veículos leves e equipamento, incluindo o fornecimento de combustível, operadores, motoristas, alimentação e também, o traslado, manutenção de todo o maquinário e demais custos. Os contratos foram celebrados no período que Marquinhos Trad administrava a cidade.
O ex-prefeito admitiu ser amigo de Patrola, o suposto cabeça do esquema, mas rejeitou a ideia de que houve irregularidade nos contratos. De acordo com a 31ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande, os implicados no suposto esquema das fraudes em licitação, devem responder por prática de “crimes de peculato, corrupção, fraude à licitação e lavagem de dinheiro, relativos a contratos para manutenção de vias não pavimentadas e locação de maquinário de veículos junto ao município [prefeitura de Campo Grande.
Empresas de Patrola também presta serviços às prefeituras do interior, principalmente a de Corumbá. Entre os 19 mandados de busca e apreensão efetuados na quinta-feira passada, surge nome de empreiteiros, ex-secretários e engenheiros, além servidores públicos. Há, ainda, suspeitas de que o apelidado Patrola tenha fortes ligações com políticos.