Em nota divulgada na tarde deste sábado (15), o Governo do Estado defendeu que haja uma punição exemplar para Caio Nascimento, noivo e assassino da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos. A administração reconheceu a falha e pediu para que o caso não seja politizado.
“Falhamos enquanto estado, falharam as instituições, falhamos enquanto sociedade. Precisamos identificar onde erramos, planejar mudanças e agir eficazmente para termos uma solução que resulte de forma efetiva no fim da morte de mulheres em nosso estado simplesmente por serem mulheres.”, diz parte do comunicado.
A nota também diz que a condução do caso por parte das delegadas Elaine Benicasa e Analu Ferraz, ambas lotadas na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), localizada dentro da Casa da Mulher Brasileira, também já é investigada pela Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul.
Algumas horas antes de morrer com golpes de faca na última quarta-feira (12), Vanessa enviou um áudio por aplicativo de mensagens para uma amiga, e disse que iria até sua casa para buscar seus pertences. Em outro momento, se queixou da postura da polícia, e da forma como foi tratada ao pedir proteção. O áudio em que se queixa do tratamento recebido ao chegar à Deam causou uma reviravolta no caso.
Em áudio enviado por Vanessa, a um amigo, ela se queixou da frieza com que foi atendida pela delegada plantonista na madrugada de quarta-feira, quando foi à Deam)(Casa da Mulher Brasileira) pela primeira vez. Vanessa ainda afirmou que a delegada se recusou a lhe dar detalhes do histórico de agressão do noivo, o qual horas mais tarde a mataria.
“Está explicado porque não aconteceu nada com o Caio. O jeito que ela [delegada] me tratou, bem prolixa, seca”, disse Vanessa.
A jornalista continuou o desabafo ao amigo:
“Ela toda hora me cortava, e eu dizia ‘eu queria entender quem que é essa pessoa’. Foi então que ela falou para mim que não poderia passar o histórico dele, mas que eu já sabia, porque ele mesmo já havia falado das agressões. Eu disse: ‘Eu queria entender a natureza dessas agressões’, contou Vanessa.
“Parece que tudo protege o agressor”, comentou Vanessa horas antes de morrer, desabafando sobre a negativa da delegada, que justificou que os antecedentes do noivo dela são protegidos por segredo de Justiça e sigilo policial.
Ela esteve na delegacia junto de outro amigo. A ideia de Vanessa era chegar com a polícia para tirar ele de dentro de casa, disse à uma amiga, em áudio primeiramente publicado no site “Comunica na TV”. A jornalista contava com a escolta policial para buscar seus pertences em casa, o que não aconteceu.
Segundo as delegadas Elaine Benicasa e Analu Ferraz, a jornalista recebeu oferta de abrigo na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o que, segundo as mesmas delegadas, foi recusado por Vanessa.
Vanessa foi com o amigo para a casa dele, mas fez uma parada em sua própria casa antes para pegar suas roupas. Ocasião em que ela foi assassinada. Caio Nascimento já estava esperando por ela.
Diante de toda a situação, o Governo do Estado disse estar trabalhando incessantemente para dar uma resposta à sociedade.
“E para isso estamos incessantemente trabalhando, integrando diversos atores, propagando campanhas, ampliando rede de proteção, e estabelecendo medidas efetivas. Enquanto Poder Público temos sim que dar uma resposta a toda sociedade.”, diz outro trecho da nota divulgada pela administração estadual, que além de pedir para que o debate público sobre a morte de Vanessa não seja politizado, disse que a situação requer uma resposta célere e que garanta maior proteção à mulher.
“Não podemos tolerar que o Mato Grosso do Sul continue com elevados índices de feminicídio, fruto também de uma cultura machista que deve ser melhor enfrentada pelas instituições e pela sociedade.”, diz outro trecho da nota.
A administração reiterou o compromisso “em lutar incansavelmente para que sorrisos como o de Vanessa Ricarte não se apaguem”.
Nesta sexta-feira (14), o músico Caio Nascimento Pereira, 35 anos, teve sua prisão em flagrante convertida em prisão preventiva durante audiência de custódia.
Confira a íntegra da nota divulgada pelo Governo do Estado:
O governo do estado de Mato Grosso do Sul lamenta profundamente mais um caso de feminicídio em nosso estado, solidarizando-se com familiares e amigos neste momento de luto. Reafirmamos diariamente o compromisso com o enfrentamento a todas as formas de violência contra meninas e mulheres.
A violência, em qualquer forma que se manifeste, exige resposta imediata e eficaz, e que qualquer falha no atendimento à vítima deve ser rigorosamente analisada, com responsabilização e punição, além da correção imediata de erros que porventura estejam ocorrendo na proteção à mulher.
Mais uma morte prova que não estamos conseguindo garantir proteção às vítimas de violência. Falhamos enquanto estado, falharam as instituições, falhamos enquanto sociedade. Precisamos identificar onde erramos, planejar mudanças e agir eficazmente para termos uma solução que resulte de forma efetiva no fim da morte de mulheres em nosso estado simplesmente por serem mulheres. E para isso estamos incessantemente trabalhando, integrando diversos atores, propagando campanhas, ampliando rede de proteção, e estabelecendo medidas efetivas. Enquanto Poder Público temos sim que dar uma resposta a toda sociedade.
E sobre o procedimento policial questionado, o mesmo já está sendo apurado pela Corregedoria da Polícia Civil, inclusive com a participação do Ministério das Mulheres, conforme nota divulgada. Nesse momento entendemos que deve haver punição exemplar ao assassino, sem que haja politização na discussão, mas sim uma resposta célere que garanta maior proteção à mulher.
Reforçamos ainda que trabalhamos no apoio e implementação de políticas públicas que protejam as mulheres, como também na criação de mecanismos que garantam a efetividade das medidas protetivas e treinamento contínuo das forças da segurança pública, para poderem atender com sensibilidade e eficácia as ocorrências de violência contra a mulher, isso feito em parceira com diversas esferas do poder público, bem como com representação da sociedade civil. Esta precisa ser uma luta diária de toda sociedade. Temos que dar um basta nos casos de violência contra mulher. Não podemos tolerar que o Mato Grosso do Sul continue com elevados índices de feminicídio, fruto também de uma cultura machista que deve ser melhor enfrentada pelas instituições e pela sociedade.
Reiteramos nosso compromisso em lutar incansavelmente para que sorrisos como o de Vanessa Ricarte não se apaguem e possamos construir uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres.