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terça-feira, março 18, 2025
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Em audiência de Pedrossian Neto, Santa Casa revela déficit de R$ 158 milhões

Maior hospital de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa de Campo Grande enfrenta situação financeira crítica, com déficit anual de R$ 158,85 milhões. O número resulta da desproporção entre os valores recebidos pelo hospital e os custos que precisa arcar. O problema foi debatido na tarde desta segunda-feira (17) na Assembleia Legislativa (ALEMS) na audiência pública “A crise dos Hospitais Filantrópicos e o atendimento na Santa Casa de Campo Grande: debates e soluções”.

Deputado Pedrossian Neto, propositor da audiência

Proposta pelo deputado Pedrossian Neto (PSD), a audiência pública lotou o plenário Júlio Maia e o saguão Nelly Martins, na ALEMS, com participação de profissionais da Saúde, representantes da Santa Casa e de outros hospitais filantrópicos, do Governo, parlamentares e outros atores envolvidos. Coordenador da Frente Parlamentar de Defesa das Santas Casas e presidente da Comissão Permanente de Finanças e Orçamento, Pedrossian Neto defendeu a recomposição inflacionária dos convênios Sistema Único de Saúde (SUS) como forma de equilibrar as contas do hospital, entre outras propostas.

“A Santa Casa tem custo mensal de R$ 45 milhões e consegue auferir em receita da União, do Estado e do Município de Campo Grande apenas 32 milhões aproximadamente. E eu pergunto como uma instituição faz para continuar aberta precisando, a cada mês, de R$ 13 milhões”, questionou Pedrossian Neto. O problema decorre, entre outros fatores, do congelamento das fontes de financiamento.

Conforme números apresentados pelo deputado Pedrossian Neto, as perdas acumuladas desde 2017 somam R$ 213 milhões em se tratando apenas o repasse do município de Campo Grande à Santa Casa (veja documento na íntegra). Nesse resultado, o parlamentar considerou a variação do IPCA e a produção hospitalar. O repasse anual deveria ser, nesse caso, de R$ 126,79 milhões. Levando em conta somente a inflação, deveria ser de R$ 87,51 milhões. E o valor, realmente repassado, é de R$ 63,11 milhões.

“Vocês conseguem viver com o mesmo salário que recebiam em 2017?”, perguntou Pedrossian Neto e completou, aludindo à obviedade da resposta: “A Santa Casa também não”. Ele disse que o valor atualizado a partir da inflação e da produção pode ser difícil de ser repassado. “Mas, devemos reajustar com base na inflação”, propôs. “Seria demais pedir reposição da perda inflacionária?”, questionou.

Alir Terra, presidente da Santa Casa de Campo Grande

Todos os setores e especialidades no vermelho

O detalhamento da situação financeira da Santa Casa foi apresentado pelo diretor técnico da Santa Casa, William Leite Lemos Júnior. Com base em dados de 2024, ele informou que a receita anual do hospital é de R$ 383,579 milhões e os custos fixos e variáveis somam R$ 542,438 milhões, resultando em saldo negativo de R$ 158,858 milhões. Mensalmente, o déficit é de R$ 13,238 milhões.

A conta não fecha em todos os setores e especialidades. Na ginecologia e obstetrícia (parto), por exemplo, déficit anual é de R$ 7,2 milhões e, por mês, de R$ 600,35 mil. Na hemodiálise, o resultado anual é negativo em R$ 1,3 milhão; na linha de transplante renal, de R$ 1,05 milhão; na oncologia ambulatorial, de R$ 579,19 mil. O Pronto-Socorro da Santa Casa tem saldo negativo anual de R$ 26,14 milhões e a UTI Congênita, de R$ 4,54 milhões.

Confira a apresentação com os números da Santa Casa.

Em razão desse descompasso, a Santa Casa tem dívida próxima a R$ 70 milhões. “Esse é o valor devido a fornecedores, prestadores de serviço, prestadores médicos, fornecedores de medicamentos, materiais especiais, órteses e próteses, que são os que infelizmente estão custeando a saúde da população, porque se o contrato não tem o equilíbrio necessário para que ele seja mantido, alguém vai deixar de ser pago”, disse William Leite. 

Essa situação está sendo discutida entre a Santa Casa, o Governo do Estado e o Ministério Público Estadual, segundo foi informado pelo diretor William Leite e outros participantes da audiência. “Estamos trabalhando já há alguns meses com o Poder Público, incluindo aí o Ministério Público para que possamos mediar essa situação. Todos os números foram apresentados para o secretário estadual e para a secretária municipal de Saúde”, completou.

Problemas são complexos e vão além da Santa Casa

A situação é complexa e vai além da Santa Casa de Campo Grande, conforme comentou a presidente do hospital, Alir Terra Lima. “Não adianta resolvermos só o problema de Santa Casa de Campo Grande e não resolvermos os dos demais hospitais. Continuando eles com dificuldades, vão continuar aportando as ambulâncias na porta da Santa Casa. E nós não podemos deixar de atender os pacientes. Estamos todos no mesmo barco”, considerou a presidente.

Deputados, secretários e outras autoridades participaram da audiência

Alir Terra também enfatizou que a Tabela SUS não condiz com as necessidades reais dos hospitais filantrópicos e que o problema é sistêmico. “A Tabela SUS, que foi aprovada em 2007 e promulgada em 2008, é impraticável para os hospitais filantrópicos. Não cobre os custos do que nós atendemos. Aqui ninguém está procurando culpados. É um sistema. E esse sistema precisa ser modificado. Se isso não acontecer, vamos perder vidas”, alertou.

Mesmo entendimento quanto à complexidade do problema tiveram outros participantes da audiência pública, como o secretário estadual de Saúde, Maurício Simões Corrêa. “Temos que encarar essa discussão com maior pragmatismo e entender que as situações apontadas aqui são diversas, múltiplas e não se encontrará uma única solução que resolverá cada um dos problemas. É preciso compreender que problemas complexos não tem soluções simples”, disse.

Possíveis saídas

Entre as alternativas para reduzir a crise financeira da Santa Casa, está a possibilidade de recebimento de emendas federais no valor de R$ 25 milhões, o que está sendo tratado em conversa do Governo estadual com parlamentares, segundo mencionou o secretário Maurício Simões. Também foi proposto esforço dos entes federados para aumentar os valores repassados à Santa Casa. No caso do município de Campo Grande, há a possibilidade de majoração da média de R$ 5 milhões para R$ 7 milhões em repasses.  

Além do plenário, o saguão Nelly Martins também ficou lotado

Também foi proposto pelo deputado Pedrossian Neto a criação de um grupo de trabalho, em nível estadual, para debater novos modelos de remuneração para serviços de saúde. Nesses modelos, segundo sugere o parlamentar, deve-se considerar “práticas mais modernas e eficientes, que garantam não somente a remuneração justa aos prestadores, mas o atendimento mais eficaz disponível aos pacientes e usuários do sistema”.

O deputado também propôs a participação de Mato Grosso do Sul no grupo de trabalho criado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para aprimorar a forma como os serviços hospitalares são contratualizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país. Pedrossian Neto também destacou proposta de sua autoria, que tramita na ALEMS. Trata-se do Projeto de Lei Complementar 07/2024, que garante isenção de ICMS para aquisição de equipamentos, insumos e medicamentos realizadas por hospitais filantrópicos e no consumo de energia elétrica. “Devemos dar o mesmo tratamento que é dado a empresas privadas [que têm incentivos fiscais]. Isso é isonomia”, defendeu o deputado.

Participação e cobertura

Também participaram da audiência os deputados estaduais Professor Rinaldo Modesto (Podemos) e Mara Caseiro PSDB), o deputado federal Dr. Luiz Ovando, a secretária municipal de Saúde de Campo Grande, Rosana Leite, o presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Instituições Filantrópicas e Beneficentes de Mato Grosso do Sul, Marco Antônio Calderon de Moura, entre outras autoridades.  

A audiência contou com cobertura da Comunicação Institucional da ALEMS, com transmissão ao vivo. Além de lotar o plenário, o evento teve participação significativa nas mídias sociais do Parlamento (YouTube e Facebook). 

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