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Com juros altos, busca por crédito tem queda de 14,1% em Mato Grosso do Sul

Mato Grosso do Sul registrou uma queda de 14,1% na busca por crédito no primeiro semestre. Conforme o Indicador de Demanda do Consumidor por Crédito da Serasa Experian, esse porcentual está a cima da média nacional, que é de -12,5%, o maior declínio dos últimos 10 anos.

Já o recorte da Região Centro-Oeste para o mesmo período indicou o Estado com a menor redução para a busca por recursos financeiros nos primeiros seis meses do ano.

Em escala decrescente, Mato Grosso do Sul ficou atrás de Goiás, com média de -14,5%, do Distrito Federal, com -14,8%, e do vizinho Mato Grosso, o qual acumula recuo de 15,6% no primeiro semestre, sendo o campeão do ranking entre os estados da região.

Mestre em economia, Eugênio Pavão destacou essa queda superior à média brasileira. “Isso mostra que a confiança dos consumidores no Centro-Oeste caiu mais que a do Brasil, sendo um dos principais fatores a questão conjuntural, ou seja, as taxas de juros elevadas, que estão provocando a queda por crédito”, disse.

A taxa básica de juros, a Selic, se mantém em 13,75% desde setembro do ano passado. Pavão pontuou que, com a taxa de juros elevada, os consumidores estão encolhendo a demanda por crédito na praça, porém, com indícios de uma reanimação no setor.

“Com a nova política econômica, o primeiro semestre representou uma guinada na confiança dos consumidores. A inadimplência recorde ajuda ainda mais a frear a busca pelos empréstimos, pelos financiamentos e pelo crédito no setor financeiro”, apontou.

Para o economista Eduardo Matos, a queda na procura por crédito se dá por dois fatores: a atratividade das linhas de crédito, a qual está baixa pelas altas taxas de juros, e a oferta por crédito criterioso.

Sobre a afirmação, o estudioso ressaltou alguns eventos que precedem o panorama atual. “Passamos recentemente por uma retração da atividade econômica, o que acabou por endividar grande parte da população, aumentando o risco de inadimplência, refletindo no custo de captação por parte dos bancos”, observou.

Ainda segundo Matos, de modo geral, o brasileiro apresenta risco considerável para as instituições financeiras, o que faz com que o setor de análise de risco dessas instituições encareça as linhas de crédito pessoal.

“Se pegarmos Mato Grosso do Sul como exemplo, a captação de crédito já estava bem baixa e a queda registrada não foi tamanha justamente por esse motivo”, ponderou.

“Junte isso aos níveis de desemprego, às falências de empresas que têm nas áreas urbanas um contingente grande de pessoas, espalhando o emprego para o interior, e à redução de vagas de empregos por parte do setor público. Observa-se, então, que a população está escaldada”, qualificou Pavão.

No ranking nacional, o Estado figura na 17ª posição entre as unidades da Federação com o maior índice de encolhimento na demanda de consumidores por crédito, perdendo para outros 10 estados que apresentaram porcentual menor para a ação. Os estados do Sul, como Santa Cantarina (-5,8%) e Rio Grande do Sul (-6,0%), foram os que menos diminuíram o consumo do serviço de crédito.

ESTIMATIVA
Em uma previsão para o próximo semestre ao setor de crédito em Mato Grosso do Sul, os economistas projetam um panorama positivo de retomada. “O consumo deve voltar a subir, incentivado pela renegociação de dívidas e pela queda na taxa básica de juros prevista já para o próximo mês”, avaliou Pavão.

Já Matos citou que os programas do governo federal tendem a fazer a área aquecer no próximo semestre, entretanto, o economista deixou um alerta.

“Com o programa Desenrola Brasil, a expectativa é que o número de contratações suba, mas é importante salientar que o cálculo de risco das instituições envolve diversos fatores, inclusive a retrospectiva do cliente.

Então, isso não significa diminuição do custo de captação, que é uma das condicionantes que trava o número de contratações de crédito”, afirmou.

Em seu prognóstico, o especialista acredita que haverá um aumento do número de pessoas aptas para captar crédito. “No caso de Mato Grosso do Sul, os efeitos podem ser bem positivos no curto e médio prazo, diante de um número avassalador de inadimplentes que terão acesso ao crédito novamente”, concluiu.

NACIONAL
No âmbito nacional, o indicador revelou que a diminuição na procura dos consumidores brasileiros pela atividade econômica foi de -12,5% entre janeiro e junho, a maior das registradas nos últimos 10 anos em comparação a 2014 e a 2020, uma vez que a maior retração até então havia sido assinalada em 2020, com variação negativa de 8,1%, segundo o relatório.

O economista da Serasa Experian Luiz Rabi ratificou que isso não se trata de uma surpresa, já que seguem as consecutivas baixas que foram apresentadas desde o começo do ano.

“Se por um lado as altas taxas de juros diminuem o apetite pelas linhas de crédito, por outro temos os elevados índices de inadimplência, os quais representam um risco para os credores e reduzem as ofertas do recurso. O mercado de crédito brasileiro sofreu uma desaceleração condizente com o cenário econômico, mas que deve melhorar a partir do segundo semestre por conta da queda dos juros”, reiterou.

Por renda mensal dos consumidores, todas as faixas manifestaram queda na procura por crédito nos primeiros seis meses do ano, se acentuando ainda mais entre os que recebem até R$ 500, obtendo baixa de -14,4%.

Conforme o levantamento, para os grupos que ganham entre R$ 500 e R$ 1 mil a perda registrada foi de -13,8%. Para os que têm renda entre R$ 1 mil e R$ 2 mil, -11,5%. Já na faixa entre R$ 2 mil e R$ 5 mil, -10,6%. De R$ 5 mil a R$ 10 mil, -10,0%. Por fim, para quem tem renda maior de R$10 mil, -9,5%.

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