Dados do Índice de Popularidade Digital (IPD), analisados diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest e calculados por um algoritmo que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia e Google no território nacional, revelaram que a popularidade do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL) despencou nas redes sociais desde 11 de maio.
Os principais motivos foram a operação da Polícia Federal (PF) que cumpriu diligências para apurar o suposto esquema de desvio de joias presenteadas pela Arábia Saudita à Presidência da República, a repercussão das declarações do hacker Walter Delgatti Neto e o fato de o ex-presidente ter sido considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na avaliação do cientista político Tércio Albuquerque para o Correio do Estado, a ruína da popularidade de Bolsonaro nas redes sociais, espaço onde, até então, o político nadava de braçada com seu grande número de seguidores dessas plataformas digitais, abre, na verdade, uma lacuna de liderança política, a qual dificilmente será suprida a curto e médio prazo.
“É importante que a gente não se esqueça que Bolsonaro conseguiu fazer com que toda a visão dos seus eleitores se mantivesse focada nele. Como foi o caso dessa questão do Pix, que foi um absurdo, mas que ele conseguiu aferir recursos expressivos que nem as grandes campanhas em prol de crianças, como o Criança Esperança e outras tantas realizadas pelo Brasil, conseguiram obter. Isso porque muitas dessas pessoas ainda buscavam, de alguma maneira, acreditar que o ex-presidente voltaria ao comando do Brasil em alguma circunstância”, pontuou.
No entanto, de acordo com o cientista político, a partir do momento em que Bolsonaro começou a ter dificuldade no TSE e, adicionalmente, começaram a surgir os rumores envolvendo as joias – como a fabricação do relógio especificamente para ele, as vendas no exterior e a destinação do dinheiro obtido para sua conta pessoal –, isso tudo colocou por terra todos os seus argumentos de que eram difamações criadas pela esquerda.
“Logicamente, esse conjunto de coisas derrubou a imagem positiva que o ex-presidente ainda tinha na esfera digital, principalmente, nas suas mídias sociais. Então, a pesquisa da Quaest mostra, na verdade, um reflexo do que efetivamente está acontecendo na vida de Bolsonaro, que deve piorar ainda mais, porque muitas coisas deverão acontecer, inclusive o risco de sua prisão”, alertou.
Na opinião de Tércio Albuquerque, o que mais chama atenção é que, efetivamente, o presidente Lula não conseguiu até agora mostrar uma estabilidade de governo que pudesse ser abarcada pela maioria dos brasileiros, fazendo com que ele assumisse o espaço que está ficando em aberto nessas mídias sociais.
“Lula continua tendo dificuldade de se fundar como o presidente que retornou ao poder ganhando uma eleição sobre o maior expoente da direita brasileira. Ele teve aquele momento de glória no início do seu mandato, mas não está conseguindo consolidar nem a política de Estado, nem a política econômica. Nós estamos vendo a dificuldade da negociação que ele está tendo com o Congresso. A cada dia que passa, fica mais claro que Lula não vai ocupar esse espaço deixado por Bolsonaro”, projetou.
Como não há no cenário político brasileiro, segundo o cientista, ninguém que possa neste momento ser tido como o eventual candidato a ocupar essa lacuna, o espaço deve continuar aberto.
“Pode até ser que os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, senador Rodrigo Pacheco [PSD-MG] e deputado federal Arthur Lira [PP-AL], venham a se aproveitar desse vazio de uma liderança forte politicamente, porém, não é uma coisa para se acreditar”, assegurou.
Tércio Albuquerque acredita que, por agora, esse espaço vai continuar livre até que as eleições municipais de 2024 se se aproximem, quando então teremos alguns despontes de representatividade nacional, os quais, talvez, possam ocupar essa lacuna.
“Porém, no momento, não há ninguém com essas características, tanto na esquerda quanto na direita ou até mesmo no centro. Neste momento, é uma dúvida que permanece realmente diante do quadro nacional”, analisou.
ENTENDA O CASO
Os dados do IPD Quaest, analisados diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria, já tinham revelado que o ex-mandatário do País vinha tendo dificuldades para manter sua popularidade digital em alta desde sua saída da Presidência da República. Com resultados que variam de 0 a 100 pontos, Bolsonaro se manteve estável em maio e junho, marcando em torno de 43 pontos.
Apesar de a pesquisa considerar julho como um mês ainda estável para ele, com a divulgação do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que acusa o recebimento de R$ 17,2 milhões via transação Pix nos seis primeiros meses do ano, o ex-presidente passou para 34 pontos.
Entretanto, já em agosto, é a partir do dia 11 que a situação dele começou a definhar em termos de visibilidade digital. Com a operação da PF que deflagrou nova fase de investigações sobre o suposto esquema de desvio das joias sauditas, Bolsonaro caiu de 35,61 para 23,85 pontos no dia seguinte.
Além disso, a nova operação de busca e apreensão contra Frederick Wassef e as confusas declarações do novo advogado do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, além da ida de Walter Delgatti à CPI do 8 de Janeiro, dificultaram qualquer reação nas redes.
Durante a semana passada, a popularidade digital de Bolsonaro oscilou entre 23 e 25 pontos, menor patamar desde o dia 11 de maio, quando teve pontuação de 11,88. Já Lula manteve-se estável em visibilidade após uma sequência de oscilações envolvendo a visita de Maduro e a Medida Provisória da Esplanada, aprovada pelo Congresso em maio, permanecendo à frente nos índices.
Atualmente, a diferença entre os dois é de cerca de 26 pontos. A Quaest disse que a disputa política nos ambientes virtuais vive um novo capítulo, com os bolsonaristas mais recolhidos e os petistas buscando outras formas de melhorar seu desempenho nas redes.
A empresa de pesquisa e consultoria ressaltou a dificuldade que os apoiadores do atual presidente têm de transformar em aprimoramentos na visibilidade digital do atual governo os revezes do ex-presidente. O curioso, de acordo com a Quaest, é que a queda de Bolsonaro ainda não se transformou em uma vitória para Lula.