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sábado, novembro 23, 2024
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Chuvas fazem camalotes entupirem corixos utilizados para locomoção

Quem depende diariamente da navegação pelo Rio Paraguai e por alguns córregos que se conectam com essa via fluvial tem enfrentado como obstáculos os camalotes, que estão entupindo vários canais.

O acúmulo de camalotes tem sido constante em diferentes regiões do Alto Pantanal, que fica na região da Serra do Amolar, e em áreas mais ao sul.

A complicação causa demora para pessoas conseguirem transitar entre propriedades, viajar para Corumbá e, até mesmo, buscar ajuda médica.

A situação nessas áreas passou a ser comum a partir de janeiro deste ano, quando as chuvas tornaram-se mais constantes no Pantanal. Antes da estiagem mais severa, entre 2019 e 2022, algumas áreas do bioma chegaram a ter ilhas formadas por camalotes.

Estudo publicado em 2016 pelo geólogo Mario Luis Assine e pelo geógrafo Eder Renato Merino, por exemplo, identificou um lago de 1 mil km² escondido sob as plantas aquáticas. Isso foi na planície do Rio Negro, região do Pantanal.

Desde 2020, essa condição de plantas aquáticas inundando corixos (cursos d’água de fluxo estacional, com calha definida – leito abandonado de rio –, geralmente com mata ciliar, de acordo com a Embrapa Pantanal) e outras áreas não era observada pelos pantaneiros e por quem navega no Rio Paraguai e tributários.

O entupimento de canais e rios começou a ser vivenciado em fevereiro. No fim do mês passado, cerca de 5 km de camalotes fecharam ou dificultaram a navegação pelo Rio Negrinho, que liga o acesso do Rio Taquari para quem segue para Corumbá. Nessa região, por ser planície, esse tipo de ocorrência acaba sendo mais comum.

Porém, os camalotes estão espalhando-se por diferentes regiões do Pantanal e mesmo em regiões mais altas já ocorre o bloqueio de corixos. Na região do Porto São Pedro, no Rio Paraguai, há ilhas de plantas aquáticas gerando dificuldades para quem precisa navegar.

Um peão de fazenda que se machucou nessa região, no dia 21 de março, enfrentou dificuldades para chegar ao porto e obter resgate do Corpo de Bombeiros de Corumbá.

Além da chuva, que impediu a navegação, a viagem demorou em torno de nove horas para ser feita a partir de uma rabeta, que é um tipo de embarcação mais simples.

Ilson da Silva, 57 anos, e a esposa, Noremir Campos Rondon, só conseguiram acessar o Porto Geral de Corumbá dois dias depois, por volta das 11h do dia 23.

Ilson sofreu um deslocamento de clavícula quando tentava laçar gado na fazenda onde trabalha. Precisou ficar com uma tipoia parte desse período em que ficou em deslocamento, além de aguentar a dor da lesão. Agora, está internado em observação na Santa Casa de Corumbá.

Conforme a esposa, Noremir, a situação dos corixos fechados com camalotes afeta dezenas de pessoas. Só onde ela mora, são seis trabalhadores, mas o trecho dá acesso para mais de seis propriedades.

“O corixo Mata-Cachorro acabou, tapou de camalote. Na fazenda onde trabalhamos tem seis pessoas, mas tem mais gente que fica mais perto do Porto [Ipiranga]. Todo mundo depende desse corixo. Fazenda Ipiranga, Fazenda São Miguel, Fazenda São Camilo, Fazenda Belém, Fazenda Treze, Fazenda São Venceslau, tudo depende desse caminho”, contou.

Alyson Gomes da Silva vive no Aterro do Binega, uma área na região da Barra do São Lourenço, com outras 20 pessoas. Para conseguir buscar iscas vivas, uma das suas atividades de trabalho, o entupimento com camalotes tem gerado desafios.

“Aqui, geralmente afeta [a presença de camalotes] porque a boca que dá acesso fica entupida. Chega muito camalote que roda o Rio Paraguai e para no acesso de saída aqui de casa. Tem um riozinho que fica fechado. A gente fica sem o acesso para fazer a rotina de pegar isca. E quem precisa desentupir é a gente”, relatou.

Nessa área, há a construção de uma escola municipal, porém, com as dificuldades de acesso e as longas distâncias entre o local e Corumbá, a obra está paralisada.

Outro pantaneiro que relatou a dificuldade gerada pelos camalotes é o condutor de turismo Wilson Malheiros, 36 anos. Ele vive na Comunidade do Amolar, próximo do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.

“Muitos corixos acumularam camalote, a maioria nessa região, para falar a verdade. Tem também betumes [ou baceiro, que é uma vegetação flutuante formada por diversas plantas aquáticas]. São barcos pequenos, com motor 40, marajó, que costumam navegar nesses locais”, disse Wilson.

Por conta do trabalho como condutor de turismo e de pesquisadores, por meio Instituto Homem Pantaneiro (IHP), Wilson apontou que os corixos fechados atualmente estão nos riozinhos da Penha, do Olho Grande, Corixo do Felipe, Corixo do Tarumã e Corixo do Magalhães.

“Esses locais servem de acesso para turistas, por exemplo. É o caminho usado para tentar o avistamento de onças-pintadas”, contou. Moradores da Barra do São Lourenço também acessam essas regiões para coleta de iscas.

Conforme Wilson, o desentupimento desses locais só acontece efetivamente quando ocorre uma grande enchente do Rio Paraguai. Nessa condição, a força da água acaba empurrando a vegetação aquática.

A reportagem procurou o governo do Estado para verificar se existe algum tipo de ação para desentupir essas áreas, mas não há nenhuma atividade programada. Em geral, esse trabalho de limpar esses canais é feito por quem utiliza a navegação local.

O acumulado de chuva na Bacia do Alto Paraguai é de 228 mm nos últimos 28 dias, de 271 mm no Alto Cuiabá e de 170 mm para o São Lourenço, ambas regiões que afetam o Rio Paraguai na região da Serra do Amolar e curso do rio abaixo, sentido Corumbá. Os dados são do dia 23 de março, do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM).

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