Por Sérgio Longen *
As últimas semanas para a indústria brasileira não foram fáceis. Começamos, na semana passada, com o impactante aumento da taxa básica de juros, a Selic, que chegou à 13,75%, depois da decisão do Banco Central. Esse número, por si só, já é um abuso.
A pandemia de Covid-19 nos trouxe muitas dores, muitas vidas foram perdidas e, no campo empresarial, muitos fecharam seus negócios. Agora, com a pandemia praticamente controlada, as empresas estão se reorganizando e focando na retomada econômica. O grande problema são os obstáculos diários que são colocados nesse caminho
Nessa semana, fomos obrigados a lamentar a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que suspendeu a redução as alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). A decisão liminar resgata um ambiente de incertezas quanto ao recolhimento do imposto, impacta diretamente a formação do preço dos produtos ao consumidor e adiciona dificuldades à retomada econômica, que já vem sofrendo com o constante aumento das taxas de juros.
O desafio de manter as indústrias mais competitivas está cada vez maior e mais desgastante. As empresas começam a ter dificuldades nos seus investimentos, agravados por outro dado: falta de mão de obra qualificada. Ou seja, além de sofrer com todo disparo fiscal e tributário, o empresário está com grandes dificuldades em encontrar trabalhadores qualificados.
Em que pese os investimentos do Sistema Indústria na busca ativa por trabalhadores para qualificação, estamos enfrentando um fenômeno. Ao mesmo tempo que Mato Grosso do Sul tem, ao menos, 20 mil vagas de trabalho abertas, o Estado tem cerca de 100 mil famílias vinculadas a benefícios sociais. Ou seja, a conclusão é que sobram vagas de trabalho com carteira assinada, mas falta gente qualificada e interessada em ocupar essa vaga de trabalho. O benefício em detrimento ao emprego. O desafio a partir desse momento é entender como as ajudas sociais estão, em certo ponto, afastando o interesse pela vaga de trabalho.
Em contrapartida a esse fenômeno social, a prova de que a indústria resiste, sobretudo em Mato Grosso do Sul, é irrefutável.
O PIB industrial do Estado atualmente é de R$ 20,5 bilhões, respondendo por 22% de todo o PIB estadual. Com isso, a indústria é o setor econômico com a segunda maior participação no PIB estadual. Até 2020, último dado oficial disponível, nosso estado tinha 5.840 estabelecimentos industriais ativos, para 2022, a projeção é de fechar em 6.100.
Na geração de emprego a indústria encerrou o ano de 2021 com 132.830 trabalhadores formais diretamente empregados, indicando um aumento de 5,7% em relação ao ano anterior. No ano passado, foram abertas 7.259 vagas pelo setor industrial sul-mato-grossense. Com relação às exportações, a receita com produtos industriais exportados alcançou em 2021 US$ 4,32 bilhões. Isso representa 63% sobre a receita total de exportação do Estado.
Além disso, os investimentos no setor industrial do Estado ultrapassam a casa dos R$ 30 bilhões. A reflexão que fica é que a indústria brasileira, sobretudo a de Mato Grosso do Sul, tem um potencial de desenvolvimento sem limites. Os limites são exatamente essas pedras que vamos encontrando pelo caminho. Apesar de não ter um dia de paz, a indústria ainda resiste.
*Sérgio Longen é empresário, presidente da Federação das Industrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) e vice-presidente da Confederação Nacional da Industria (CNI)