Durante o Seminário Mercosul sobre Política de Cuidados, nesta quarta-feira (8), a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que um dos principais entraves que dificultam a ascensão social das mulheres e as impedem de ocupar mais cargos de chefia é a sobrecarga de trabalho atribuída a elas no cumprimento de atividades domésticas e cuidados com familiares.
Segundo dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de horas dedicadas a alguma atividade de cuidado com parentes (ou moradores da mesma residência) e com afazeres domésticos foi de 17 horas por semana, entre as mais de 150 milhões de pessoas com 14 anos ou mais que fizeram esses trabalhos no país. A mulher sem ocupação dedicou em média 24,5 horas por semana aos serviços de cuidado, enquanto o homem, apenas 13,4 horas semanais.
De acordo com a ministra, o Ministério das Mulheres precisa enfrentar essa diferença com uma política de cuidados que discuta principalmente os direitos de quem cuida. “Enquanto Estado, precisamos pensar em como diminuir o tempo das mulheres com o cuidado no Brasil. Não adianta resolver o problema de um ente federativo com recursos, por exemplo, e jogar a responsabilidade de cuidado toda para as mulheres”, afirmou.
Para Cida Gonçalves, o Brasil precisa olhar para a própria cultura social e mudar o olhar que classifica o cuidado como trabalho exclusivo das mulheres, não só por meio de ações do governo federal, estados e municípios, mas também com a divisão das demandas de cuidado com os homens.
Ainda assim, a ministra atribuiu ao Estado o papel de desenhar caminhos para políticas públicas que possam, de fato, tirar a sobrecarga das mulheres por meio de projetos de lavanderias e restaurantes comunitários com horários expandidos para o período noturno e aos finais de semana, por exemplo.
Na ocasião, Cida Gonçalves anunciou que, junto ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério das Mulheres está construindo um Grupo de Trabalho considerando todos os fatores necessários para criar uma política de cuidados diante da realidade brasileira. “Estamos trazendo elementos e informações para que possamos ter um processo de construção coletiva a partir de escutas que garantam a nós, mulheres, viver com tranquilidade. Nenhuma mulher sai para trabalhar tranquila”, avaliou a ministra.
Parceria
Conforme o ministro do MDS, Wellington Dias, o governo federal trabalha por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ampliação de creches e escolas de tempo integral. A meta é construir mais de 1 milhão de novas escolas integrais ao longo da gestão, assim como construir centros de diferentes áreas de cuidado que são necessárias aos contextos do país.
Para o ministro, o país tem que unir esforços intersetoriais com grande leque de atores para impulsionar ações e evitar retrocessos. O objetivo é quebrar barreiras e interligar setores para criar políticas mais eficazes e abrangentes no apoio das famílias.
“Nosso ministério tem buscado alianças para formalizar políticas que garantam direito ao cuidado. Nesse percurso, o Ministério das Mulheres, comandado pela ministra Cida, tem sido um grande parceiro”, declarou Wellington Dias.
Ambos os ministros são coordenadores do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) voltado ao tema dos cuidados, além de trabalharem lado a lado em projetos para pensão aos órfãos do feminicídio, para o desenvolvimento de cozinhas comunitárias e para a priorização de famílias chefiadas por mulheres no programa habitacional Minha Casa Minha Vida.