Arquitetura imponente e vidros espelhados esverdeados são algumas características que chamam atenção do campo-grandense que passa em frente ao Hotel El Kadri, situado na Avenida Afonso Pena entre a Avenida Calógeras e a Rua 14 de Julho.
Fechado há anos, reforma do espaço gerava expectativa do mega empreendimento que estava prestes a nascer em Campo Grande, porém, os anos se passaram e Hotel se manteve com as portas fechadas. Dessa forma, a falta de verba e ‘calote’ envolvendo o nome do ex-prefeito Gilmar Olarte estariam influenciando para que hotel não consiga receber hóspedes tão cedo.
Os questionamentos que permeiam o Hotel El Kadri são muitos, especialmente porque, até 2020, ainda existia expectativa da sua inauguração naquele mesmo ano. Além disso, desde que anunciada a compra do prédio por Mafuci Kadri, médico e presidente do Hospital El Kadri de Campo Grande, já se falava na proporção do projeto focado em receber turistas na Capital. Assim, o Jornal Midiamax decidiu conhecer de perto a estrutura e constatou que a exuberância do Hotel está além dos papeis. Apesar de estar quase pronto, empreendimento não tem data para ser aberto.
A administração atual assumiu as obras em 2009. No entanto, a construção do prédio teve início em 1991, ou seja, há 32 anos.
Relação com o prédio começou na adolescência
Em entrevista ao Jornal Midiamax, Mafuci Kadri deu detalhes sobre a situação do Hotel El Kadri. Aos 74 anos, o médico e empresário é conhecido em Campo Grande por ter fundado o Hospital Geral El Kadri, ter sido o responsável pelo antigo Hospital Sírio Libanês e também por ter ocupado o cargo de presidente da escola Funlec. Homem também foi um dos fundadores do antigo Hospital Miguel Couto, agora Unimed, e por ter sido o primeiro chefe de ginecologia e obstetrícia da Santa Casa.
A sua relação com o prédio na Afonso Pena começou quando ele ainda era adolescente e se mudou de Jardim, onde morava com a família, para fazer o ginásio no Dom Bosco, na época em que colégio ainda era internato. Ele recorda que o prédio era o antigo Cine Alhambra, local onde passou os anos Dourados da sua juventude após as aulas. A área foi comprada anos depois pelo Grupo Binder de São Paulo, até que, quando Mafuci já estava adulto, ele recebeu a proposta para comprar o prédio também.
“Todos os negócios que eu fiz vieram me procurar. Surgiu realmente o prédio como negócio, eu fiz. Apareceu o negócio como hotel, daí as pessoas queriam transformar em hospital e falei: hospital chega”, brinca.
Questionado sobre o que o Hotel El Kadri ainda necessita para ficar pronto, Mafuci é sucinto: “falta a pintura final e a mobília, somente isso”. No entanto, ele pontua uma série de sequências que culminaram no atrasado da abertura do empreendimento.
Calote resultou em dívida com a prefeitura
Segundo Mafuci Kadri, um dos fatos que atrapalhou o seguimento do Hotel foi o aluguel do Hospital Sírio Libanês, na Afonso Pena, à prefeitura de Campo Grande para se tornar um hospital pediátrico.
“Era na época do senhor Olarte e depois do próximo prefeito que assumiu. Só que eles pagaram um ou dois meses de aluguel, não pagaram mais. Eu tinha entregue o hospital, totalmente mobiliado. Quando eles vieram entregar a chave, eu disse que me pagassem os alugueis atrasados e eu ia verificar como o hospital estava porque entreguei com raio-X, tomografia. Quando lá cheguei, tinham roubado tudo”, afirma.
Mafuci ainda explica que chegou a falar com Marquinhos Trad e entrou na Justiça para cobrar uma dívida de R$ 4 milhões. A prefeitura perdeu a ação e foi condenada a pagar o homem em precatórios. “Com este dinheiro eu terminaria o hotel […] mas precatórios sabe-se: paga como quer, quando quer e da maneira que quiser. Isso atrapalhou realmente a nossa vida econômica”.
Pandemia aprofundou dificuldades
Ao mesmo tempo que Mafuci tentava terminar o Hotel El Kadri, a pandemia de Covid-19 em 2020 mudou completamente a rotina de trabalho e despesas do Hospital El Kadri uma vez que, na época, o presidente deu ordem para atender todos os pacientes que procurassem por ajuda.
“Muita gente internou, não pagavam, eu arquei, os convênios tomaram outras atitudes e vieram a prejudicar o andamento do hospital. Acabou-se a possibilidade econômica de dar continuidade ao hotel, por isso está parado entre outras mais. É uma situação econômica que estamos passando na área hospitalar”, relata.
O Hospital conta com cerca de 400 funcionários, sendo 250 médicos. Mafuci alega ter recebido propostas de venda, que sofreu boicotes e, por isso, está tentando “sobreviver” na área da saúde antes de transferir seus investimentos ao Hotel. “Segurei a barra, mas nesse percurso de tempo nós não tivemos o apoio de ninguém”.
Hotel El Kadri ainda pode ser aberto
No entanto, apesar da situação financeira enfrentada, Mafuci alega não ter desistido do hotel e caso haja uma previsão de melhora, vai terminar a obra.
“A gente não tem apoio. Bancos não querem emprestar dinheiro e quando quer o juro é lá em cima, acaba você sendo escravo do sistema financeiro. Acaba não tendo apoio dos órgãos oficiais que deveriam dar apoio pelo menos para manter os empregos das pessoas aqui [hospital]”, diz.
Para ele, tudo é uma questão de oportunidade para conseguir abrir o hotel para ser mais uma fonte de empregos e até mesmo reabrir o Hospital Sírio Libanês. “Não tem perspectiva de data, gostaria de ter terminado o hotel”, lamenta.
Os elogios elencados por Mafuci realmente fazem jus à realidade. Apesar de não estar pronto, prédio na Afonso Pena guarda em seu interior um mega hotel de luxo com estruturas gigantes, suíte presidencial que mede quase um andar inteiro e até heliponto.
Arquitetura imponente e exuberância
A fachada do Hotel El Kadri é identificada por uma faixa bem na frente. Basta entrar no saguão do espaço para se dar conta da proporção do projeto arquitetônico para transformar antigo cinema em um dos hotéis mais conceituados de Campo Grande – senão o hotel mais conceituado da capital.
Todo o prédio é feito em concreto e conta com pilares enormes que dão suporte a toda a estrutura, além de complementarem a decoração do espaço. Logo na entrada você se deparar com uma claraboia circular que permite a entrada da luz solar e deixa todo o hall bem iluminado.
O hotel conta com 18 pavimentos, sendo 14 andares, o térreo, mezanino, mais dois subsolos. São 144 vagas para veículos e cerca de 160 quartos. O tour do Jornal Midiamax começa no último andar, o que seria o mais cobiçado pelos hóspedes se local estivesse aberto, uma vez que a cobertura conta com a suíte presidencial.
Assim, o quarto ocupa quase o andar inteiro, além de possuir três banheiros, espaço para o dormitório e também para um escritório. O restante do andar ainda contém mais seis apartamentos que seriam destinados para a equipe do presidente.
Hotel El Kadri
Toda essa exclusividade é prevista no projeto do hotel, uma vez que prédio também conta com heliponto que dá acesso a uma vista panorâmica de toda a Capital. Para chegar até o local, basta andar por um caminho e subir alguns lances de escada.
Imagina tomar banho de piscina com um drink na mão com uma vista aérea de Campo Grande? Se o Hotel El Kadri estivesse aberto, situações como essa seriam frequentes e dignas de muitos posts nas redes sociais. Isso porque o sexto andar do prédio é todo dedicado ao lazer dos hóspedes com espaço para academia, hall de convivência, bar e duas piscinas na parte externa, uma para adultos e outra para crianças.
A arquitetura também reserva banheiros exclusivos para chuveiros, pensados para os hóspedes que quisessem se limpar antes ou após entrar na piscina. Como você viu aqui, enquanto o sexto andar é dedicado para lazer e o 13ª para a suíte presidencial, todos os restantes dos andares seguem com o mesmo padrão de quartos.
Vale ressaltar também que todos os dormitórios já estão com os ares-condicionados instalados, além da parte elétrica e hidráulica em dia. Além disso, todo o espaço está limpo e preservado, faltando realmente, igual adiantou Mafuci, a pintura final e mobília.
O Hotel El Kadri ainda conta com a área do mezanino onde a cozinha está instalada. Nela, espaço enorme seria reservado para reunir profissionais especializados nas refeições do hotel. Local conta ainda com um elevador exclusivo até aquele andar que levaria as comidas de cima para baixo para ajudar no serviço de quarto.
Ao lado é possível adentrar o espaço destinado ao restaurante, onde as mesas estariam dispostas para receber os hóspedes ao longo do dia. Além disso, mezanino conta com vista privilegiada do hall de entrada.
Os andares abaixo do térreo são as garagens. São 72 vagas em cada um dos dois subsolos e existe até espaço que serviria para a lavanderia. Isso mostra que toda a estrutura foi pensada em realmente servir o hóspede e proporcionar a ele toda experiência de conforto aliado ao luxo.
Do lado de fora, o prédio também arranca a curiosidade de alguns comerciantes. Em conversa com a equipe de reportagem, uma vendedora contou que, certa vez, uma família de turistas chegou ao local com malas nas mãos acreditando que hotel estava aberto. Porém, estava com as portas fechadas.
Isso mostra que, apesar do Hotel El Kadri ainda não ter sido finalizando, grandes expectativas o aguardam para o futuro. “Não vou deixar do jeito que está. A visibilidade do prédio te impressiona, a construção te impressiona”, conclui Mafuci Kadri.