Os arrastadores de veículos roubados e furtados em Mato Grosso do Sul e outras partes do Brasil estão utilizando a MS-288, na região da Nhecolândia, no Pantanal, para levar para a Bolívia camionetes, de preferência modelo Hilux, da Toyota.
Segundo a Polícia, já foram flagradas na região 234 caminhonetes durante todo o ano passado, ou seja, se este é o número das que foram flagradas, imagine as que “conseguiram passar”.
Ainda conforme a Polícia, uma mulher também teria sido presa ao menos cinco vezes na região, em menos de um ano. Com exceção de uma vez, ela estava em todas as outras com veículo roubado e levando para a Bolívia.
Desta forma, desde 2019, a média de apreensão é de 300 veículos ao ano, o que teria aumentado um pouco mais no último ano. Também existe a informação de possíveis fazendas que escondem droga vinda da Bolívia, além da concentração de quadrilhas que escolheram a MS-228 como “corredor de passagem” até a BR-163 e dali seguem com os ilícitos para inúmeros destinos.
Presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), o coronel da reserva da PM (Polícia Militar), Ângelo Rabelo, ressalta que acompanha a evolução das estradas e também recebe denúncias sobre a região. Segundo ele, as comitivas pantaneiras sempre estiveram presentes ali justamente porque o bioma era conservado e é possível a construção do corredor, desde que bem planejado e administrado para não ser prejudicial ao Pantanal.
Para atender investidores que estão tirando os pantaneiros originais e acelerando a destruição do Pantanal de Mato Grosso do Sul, o Estado está trocando antigos corredores, caminhos que se mantinham secos na maior parte do ano, por estradas que rasgam as áreas com ‘novos donos’.
Em uma das partes até então mais preservadas do bioma pantaneiro, na Nhecolândia se vê cada vez menos as lentas e pouco agressivas comitivas que transportavam boiadas gigantescas de uma parte a outra. Agora convive com o vai e vem descuidado de caminhões boiadeiros, chamados de ‘uber do boi’.
Segundo pantaneiros e fazendeiros locais, além do poeirão que levanta, a rodovia está atraindo o crime organizado e acelerando a destruição do bioma. Autoridade com quatro décadas de experiência na preservação e no combate a incêndios, um servidor público que não será identificado pela reportagem ressalta que as estradas deveriam “cumprir papel estratégico e exclusivo” de escoar a produção.
No entanto, notícias de crimes não param de chegar. As mais recentes, ligadas à “passagem de Hilux” roubadas, ao uso da estrada para o tráfico de drogas e também a farra de grupos que procuram o local para lazer aos fins de semana. Além do trabalho da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e o patrulhamento rural, envolvendo equipes locais da Polícia Militar e do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), a Polícia Federal também monitora o tráfico internacional de drogas na região.
No início deste mês, durante operação deflagrada em Corumbá, Coxim, Campo Grande e, simultaneamente, nos estados da Bahia e São Paulo, ficou constatada a concentração de quadrilhas do ramo no Pantanal. Segundo a investigação, Coxim é um município próximo aos “dois pantanais”, como a região da Nhecolândia e o Paiaguás.
Mesmo com acesso difícil até as fazendas, o que melhorou com a construção do “corredor”, o território também passou a ser usado por traficantes para distribuírem cargas milionárias de drogas para os grandes centros e até mesmo fora do país.
No dia 6 de junho, quando iniciaram as buscas da “Operação Ardea”, que levou esse nome porque é o nome científico da garça-branca, pertencente à fauna pantaneira, agentes da PF ressaltaram que os suspeitos usavam aviões para fazer o transporte da droga. Nesta constância, também usam as estradas para trazer droga vinda da Bolívia.
Ainda conforme a PF, foram cumpridos seis mandados de prisão e busca e apreensão em 25 alvos. Ao todo, o grupo teria movimentado cerca de duas toneladas de cocaína. As investigações ainda estão em andamento. Com informações do site Midiamax