No âmbito da “Operação Cascalhos de Areia”, que apura prejuízo de mais de R$ 300 milhões para os cofres públicos da Prefeitura de Campo Grande, o site O Jacaré divulgou que a Prefeitura de Três Lagoas pegou “carona” no pregão do município de Campo Grande para contratar a JR Comércio e Serviços, que tem como dono o vendedor de queijos Adir Paulino Fernandes.
De acordo com informações do Portal da Transparência da Prefeitura de Três Lagoas, de 2018 até este mês, a empresa do vendedor de queijos recebeu R$ 37,991 milhões da gestão de Ângelo Guerreiro (PSDB).
Apesar de se apresentar como motorista autônomo e chacareiro com renda mensal de R$ 2,5 mil por mês, em torno de dois salários mínimos, Adir Fernandes foi o responsável pela assinatura do 5º termo aditivo do contrato no dia 3 de fevereiro deste ano, conforme extrato publicado no Diário Oficial.
Além do queijeiro, o contrato foi assinado pelo secretário municipal de Obras, Osmar Dias Pereira, e pelo prefeito Ângelo Guerreiro. Pela locação de máquinas e manutenção das vias urbanas e estradas vicinais não pavimentadas, a Prefeitura de Três Lagoas vai pagar R$ 9,618 milhões para a JR Comércio e Serviços, que funciona no mesmo prédio da Engenex Construções, outra empreiteira investigada por integrar o suposto esquema.
A Prefeitura de Três Lagoas pegou carona no Pregão Presencial 108/2016, da Prefeitura de Campo Grande, de acordo com informações disponibilizadas no Portal da Transparência. “Adesão à Ata de Registro de Preços nº. 011/2017 oriunda do Pregão Presencial nº. 108/2016 – Processo Administrativo nº. 46.487/2016 e 48.600/2016-44, gerenciada pela Prefeitura Municipal de Campo Grande – MS, por intermédio da Secretaria Municipal de Gestão, com referência a Locação de máquinas pesadas, caminhões, ônibus, veículos leves e equipamentos para suprir a demanda da falta de equipamentos, ou ainda, substituindo temporariamente aos que permanecem em manutenção, que serão utilizados nos atendimentos das demandas do Município de Três Lagoas (MS)”, diz trecho da nota explicativa.
A empresa do vencedor de queijos foi contratada para atuar “nas melhorias das estradas vicinais, rurais e vias não pavimentadas no perímetro urbano, bem como, nos serviços de pavimentação urbana, na limpeza e acero de margens de rodovias, manutenção do aterro de resíduos de construção e galhadas, eco pontos e áreas verdes do município realizadas pela Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Trânsito – SEINTRA e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agronegócio – SEMEA”.
De 2018 a 2023, o município três-lagoense empenhou R$ 47,692 milhões para a JR Comércio. Desse montante, a Prefeitura de Três Lagoas pagou R$ 37.991.530,24. Só neste ano, dos R$ 9,618 milhões previstos, a gestão tucana já desembolsou R$ 3,206 milhões, de acordo com o Portal da Transparência.
O valor vem se somar aos R$ 224,7 milhões pagos de 2017 a 2023 pela Prefeitura de Campo Grande para a empresa de Adir Paulino Fernandes. No total, a construtora do queijeiro recebeu R$ 262,7 milhões apenas nos dois municípios.
A JR Comércio é investigada pelos crimes de peculato, corrupção passiva e ativa e fraude à licitação. A prisão de Adir Fernandes por posse ilegal de arma de fogo aumentou a especulação sobre a empreiteira. Em depoimento à Polícia Civil, ele disse que é motorista e sobrevive com renda de R$ 2,5 mil proveniente da venda de queijos e outros produtos da Chácara Santa Dirce, em Terenos, onde foi preso em flagrante.
Os promotores de Justiça Adriano Lobo Viana de Resende e Humberto Lapa Ferri investigam os empresários André Luiz dos Santos, o “Patrola”, dono das empreiteiras AL dos Santos e ALS Transportes, e Mamed Dib Rahim, Edcarlos Jesus da Silva e Paulo Henrique Silva Maciel, sócios das empresas MS Brasil Comércio e Engenexx Construções.