O deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) lidera um grupo, formado por pelo menos 50 parlamentares do partido mais radicais de direita, que deseja derrubar do comando da bancada o deputado federal Altineu Cortes (PL-RJ), que é do chamado “PL raiz” e já inaugurou um diálogo com o governo Lula.
Segundo fontes do Correio do Estado, o parlamentar sul-mato-grossense tem comandado reuniões periódicas em uma casa em Brasília (DF), e todos os encontros são registrados em ata e as discussões entre um encontro e outra ocorrem em um grupo de WhatsApp do qual o resto da bancada do PL não participa.
Além de deliberar sobre os assuntos da semana, o grupo discute sempre como formar maioria na bancada e destituir a atual liderança na Câmara dos Deputados.
Outra informação obtida pela reportagem é que o grupo rebelde tem intensificado as reuniões para viabilizar a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar supostas “ações e omissões” do governo Lula (PT) quanto aos atos de vandalismo ocorridos no dia 8 de janeiro deste ano na capital federal, proposta pelo deputado federal André Fernandes (PL-CE).
Os parlamentares da ala mais radical do PL querem viabilizar a libertação das pessoas que foram presas durante os atos.
Outra bandeira do grupo é que o PL indique o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) para a Comissão de Defesa, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) para a Comissão de Meio Ambiente, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) para a de Fiscalização e Controle e, ainda, nomear Carlos Jordy (PL-RJ) como líder da oposição na Câmara.
Na semana passada, esse mesmo grupo tentou pressionar o atual líder do PL na Casa de Leis, Altineu Cortes, para atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que tinha acabado de decretar a prisão de Daniel Silveira.
Para a ala de Altineu, que se coloca como de “oposição responsável” a Lula, o objetivo dos rebeldes é provocar no PL o mesmo racha ocorrido no primeiro ano de mandato de Bolsonaro entre o então presidente e o PSL, que o abrigou na eleição de 2018.
Na ocasião, o próprio presidente da República provocou uma cisão entre seus deputados e a direção do PSL, em uma tentativa de assumir o comando.
A briga também começou com disputas por posições na Câmara, com os bolsonaristas tentando destituir os escolhidos pelo então presidente do partido, Luciano Bivar, para colocar seus aliados como líderes de bancada e em comissões.
No fim de 2019, Bolsonaro acabou deixando o PSL para formar o Aliança pelo Brasil, prometendo levar 26 deputados com ele. Mas a iniciativa não deu certo, e Bolsonaro se filiou ao PL em 2021, levando seu grupo.
As mais recentes movimentações do grupo têm provocado discussões pesadas nos bastidores, com rebeldes e moderados pressionando Valdemar Costa Neto a decidir a favor de um lado ou de outro. Mas Valdemar, que tem defendido Bolsonaro publicamente, não pretende se posicionar, pelo menos por enquanto.
Ele ainda acredita que é possível produzir um acordo entre os dois extremos e, para isso, marcou para a próxima semana uma reunião da bancada em Brasília.
Segundo seus aliados, ele vai usar o método Costa Neto de resolução de conflitos: “Ele vai jogar todo mundo em uma sala, deixar o pessoal falar e, depois, decidir o que quiser”.
Procurado pelo Correio do Estado, Marcos Pollon negou que haja um racha e garantiu que todos estão fechados com Altineu Cortes.
“O nosso grupo é destinado única e exclusivamente ao aprimoramento da oposição. Ou seja, nós fazemos as reuniões para estudar regimentos, estruturar a atuação conjunta, entre outras pautas de interesse do partido”, garantiu.
CPMI
O pedido de CPMI cita documento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do dia 6 de janeiro, que alerta para o risco de “ações violentas contra os prédios da Esplanada dos Ministérios”, em Brasília. O relatório teria sido enviado a 48 órgãos do governo federal.
Segundo o deputado bolsonarista Carlos Jordy, 61 parlamentares já aderiram na Câmara. Eles contam com um time de congressistas para recolher as assinaturas dos colegas. Há também a justificativa de que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou sigilo sobre as imagens gravadas no Palácio do Planalto durante o ato golpista.
A medida, segundo os congressistas, atrapalha a “transparência” das investigações. O governo federal não é alvo de investigações na Polícia Federal, no Ministério Público Federal (MPF) e no Supremo Tribunal Federal (STF) em razão dos atos do dia 8 de janeiro.
As apurações abrangem os executores, financiadores e idealizadores do ato golpista que vandalizou as sedes dos Três Poderes.
Ainda que o governo, como instituição, não seja alvo das averiguações, indivíduos que estão ou estiveram alocados na gestão Lula podem ser investigados.
É o caso, por exemplo, do ex-comandante do Batalhão de Guarda Presidencial (BGP) coronel Paulo Fernandes da Hora, filmado tentando impedir a prisão de golpistas no dia 8 de janeiro.
Dez dias depois do ato bolsonarista, Lula disse que não apoia a ideia de o Senado de criar uma comissão parlamentar para apurar as responsabilidades pelos atos golpistas em Brasília.
Com informações do Correio do Estado