No próximo dia 19 de fevereiro, completa quatro anos que agentes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão no prédio onde funciona a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), que responde pelo controle do Sesi e Senai no Estado. Denominada de “Operação Fantoche”, a ação da PF foi deflagrada em sete Estados contra esquema de corrupção de contratos superfaturados executados por um grupo de empresas de uma mesma família e envolvendo unidades do Sistema S com convênio do Ministério do Turismo.
A reportagem do site Campo Grande Informe procurou a assessoria de imprensa da Fiems para obter mais informações sobre o resultado das investigações da Polícia Federal, mas, até o fechamento desta matéria, só obteve o silêncio da poderosa entidade. Na época, além de cumprir mandado de busca e apreensão na Casa da Indústria, como é conhecido o prédio da sede da Fiems, a equipe da PF esteve no Edifício Manoel de Barros, na Rua Príncipe Ranier, entre a Via Parque e a antiga Rua Furnas, em frente ao Shopping Campo Grande.
No prédio de luxo, até 2015, morava o presidente da Fiems, Sérgio Marcolino Longen, mas, como ele não residia mais no local, a PF não conseguiu cumprir o 2º mandado de busca e apreensão. A “Operação Fantoche”, comandada pela PF do Estado de Pernambuco, investigava a corrupção envolvendo o Ministério do Turismo e o Sistema S. Na Casa da Indústria, a equipe da PF passou cerca de três horas. A ação, que conta com colaboração do TCU (Tribunal de Contas da União), investiga organização criminosa que cometeu crimes contra a administração pública, fraudes licitatórias, associação criminosa e lavagem de ativos.
O esquema de corrupção envolveu um grupo de empresas controladas por uma mesma família que tem contratos e convênios com o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S. Estima-se que o grupo empresarial lucrou pelo menos R$ 400 milhões em 17 anos, de 2002 até agora. Além de Campo Grande, também foram emitidos mandados para cumprimento em cidades de outros cinco Estados – Belo Horizonte (MG), Nova Lima (MG), Brasília (DF), Maceió (AL) e São Paulo (SP).
Foram no total 10 mandados de prisão temporária e 40 de busca, sendo que só em Pernambuco foram 23 ordens judiciais – sete para prender e 23 para vasculhar endereços. A operação prendeu o presidente da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), Robson Braga, sendo que o empresário Sérgio Longen é um dos vice-presidentes da entidade.
Nas ruas contra a corrupção
Um dos 36 alvos da “Operação Fantoche”, o presidente da Fiems, Sérgio Marcolino Longen, não só apoiou publicamente como foi às ruas para apoiar o combate à corrupção no Brasil. Durante os protestos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2015, a Fiems endossou o movimento verde e amarelo. A entidade ainda divulgou nota de repúdio contra a petista, que estaria prejudicando o desenvolvimento nacional.
“Os fatos políticos denigrem a imagem do Brasil e espantam todos os investimentos”, dizia nota publicada em conjunto pelo sistema produtivo, que incluía a Fecomércio e a Famasul. Na mesma nota, o grupo ressaltava a confiança no Poder Judiciário. Sérgio Longen teve os sigilos bancário, fiscal, de dados e telefônico quebrado pelo juiz César Arthur Cavalcante de Carvalho, da 4ª Vara Federal de Recife.
O magistrado ainda determinou o bloqueio de contas bancárias, imóveis e veículos com valor de mercado acima de R$ 50 mil do presidente da Fiems. O empresário ainda reforçou as marchas contra a corrupção, que levaram ao impeachment da presidente Dilma. Na ocasião, vestiu a camisa verde amarela e desfilou ao lado do atual presidente da Assembleia, Paulo Corrêa (PSDB).
O presidente da Fiems sempre apoiou as ações de combate à corrupção do Ministério Público. Uma das campanhas foi contra a venda do voto nas eleições. “Se uma empresa não cumpre as regras, automaticamente deve ser fechada”, defendeu o empresário, ao falar sobre a prática abominável das empresas corruptas.
Conforme a PF, a “Operação Fantoche” apura um esquema milionário de peculato e desvio de dinheiro por meio de empresas fantasmas e organizações da sociedade civil (OSCIP). Em 17 anos, o esquema teria movimentado R$ 400 milhões, sendo R$ 260 milhões somente entre 2010 e 2017. A Fiems entrou no radar porque o valor gasto com ações culturais voltadas aos trabalhadores supera o montante destinado por São Paulo, que possui um parque industrial muito maior. Sobre a Operação Fantoche, Sérgio Longen informou que todos os contratos investigados foram licitados e negou ter cometido desvio.